Título: Bank of Europe foi criado pelo ex-banqueiro
Autor: Josette Goulart
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2005, Finanças, p. C8

Os diretores estatutários do Banco Santos receberam em abril de 2004 uma carta do Banco Central que os colocava a par de uma manipulação no banco de dados da central de risco de crédito do próprio BC. O nome das empresas Delta, Quality, Omega e Creditar, que receberam créditos de R$ 282 milhões, haviam sido trocados por nomes de grandes companhias como Brasken, Cosipa, Pão de Açúcar. As "gregas", como eram conhecidas, eram empresas estrangeiras clientes do Bank of Europe, o maior parceiro internacional do Banco Santos e a descoberta da manipulação precipitou a troca de parte da diretoria do Banco Santos. Nesta época, o PL do banco era de R$ 567 milhões, mas o BC exigiu provisionamento de R$ 282 milhões em função dos empréstimos às empresas "gregas", mais R$ 134 milhões de um empréstimo feito à Caoa, porque era sempre renovado, mais R$ 90 milhões da J. Veríssimo, num total de R$ 510 milhões, sobrando apenas pouco mais de R$ 50 milhões no patrimônio. Edemar Cid Ferreira foi afastado e Ricardo Gribel assumiu a presidência do banco. Quando a nova diretoria tomou posse, diversas outras irregularidades foram encontradas no banco, como passivos que constavam do balanço, mas que já era considerados pagos pelas empresas que haviam tomado empréstimos a longa data. Havia operações de créditos duvidosos, como um financiamento de R$ 90 milhões à uma trading de agrobussines. Imediatamente a nova diretoria deixou de renovar R$ 480 milhões em operações. Houve também financiamentos feitos com base em garantias de depósitos feitos no Bank of Europe que não puderam entrar no caixa do banco. O Banco Santos tinha muitas operações com o Bank of Europe. Em seu depoimento, Edemar Cid Ferreira confirmou que ele constitui a empresa, em 1996, mas diz que neste mesmo ano transferiu sua titularidade. A representação no Brasil do Bank of Europe era feita por Ricardo Russo, hoje testemunha de acusação no caso. Edemar diz que Russo está se esquivando da importância que tinha dentro do Bank of Europe. A acusação de desvios de recursos das operações casadas, em que os clientes recebiam os empréstimos do BNDES em troca da compra de debêntures, feita pelo Ministério Público, envolve o Bank of Europe, que tem sede em Antigua, um paraíso fiscal. Segundo Edemar, era Russo que levava as operações de investidores estrangeiros para dentro do Banco Santos. Ricardo Russo, em seu depoimento à Polícia Federal afirmou que 70% dos clientes levados ao Bank of Europe (que no Brasil era a European Advisors) vinha do Banco Santos. (JG)