Título: Atenção voltada para 3 de outubro
Autor: Campos, Ana Maria
Fonte: Correio Braziliense, 07/04/2010, Cidades, p. 21

A escolha indireta de governador, daqui a 11 dias, é um ensaio das próximas eleições gerais. Distritais querem alguém neutro, que influencie o mínimo possível a disputa pelo Buriti

O colégio eleitoral que vai escolher o chefe do Executivo em 17 de abril na Câmara Legislativa só tem olhos para o outro pleito, o de 3 de outubro. As negociações levam em conta os reflexos da eleição indireta na disputa pelo comando do Distrito Federal nos próximos quatro anos. A expectativa no meio político é de que o governador tampão, com a estrutura administrativa nas mãos, terá grande força para influenciar o sucesso de uma candidatura aliada ou até mesmo de se tornar um concorrente natural à reeleição.(1)

Por conta do impacto que uma eleição terá na outra e da diversidade de interesses políticos entre os distritais, a Câmara encontra dificuldades para construir candidaturas de consenso. Cresce a possibilidade de escolha de um político que não esteja vinculado aos prováveis candidatos a governador em outubro. O problema é encontrar um concorrente com esse perfil neutro. Para atender esses pré-requisitos, o governador em exercício, Wilson Lima (PR), trabalha para se desvincular de interesses eleitorais e anunciou que não tem intenção de disputar em outubro. Mas precisará demonstrar que não tem vínculo com o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), de quem já foi aliado.

Da base do governo Lula no Congresso, o PR também tenta obter apoio a Wilson Lima. Emissários do partido procuraram representantes no Palácio do Planalto para oferecer um governo compartilhado, abrindo aos petistas a possibilidade de indicar secretários, dirigentes de empresas e o vice de Lima, além de manter a presidência da Câmara Legislativa com Cabo Patrício. O mesmo movimento tem sido feito pelo PRB, do deputado Aguinaldo de Jesus.

Até o vice-presidente da República, José Alencar, foi procurado para influenciar os petistas. Mas o movimento do PRB no DF ainda não surtiu efeito. Hoje, o diretório regional do PT escolherá o candidato à eleição indireta, um nome que terá poucas chances de se viabilizar. Agnelo Queiroz, que concorrerá ao Buriti pelo partido em outubro, decidiu se desvincular dos nomes já ventilados. Entre os candidatos prováveis estão o sindicalista Cícero Rola, o ex-reitor da Universidade de Brasília (UnB) Antônio Ibañez e a ex-deputada Maria Laura.

Recusa O nome preferido do PT era o do ex-deputado federal Sigmaringa Seixas, advogado com bom trânsito no Judiciário, muito próximo de Lula e com ótima relação com o candidato tucano à Presidência da República, José Serra. A escolha de Sigmaringa evitaria uma intervenção federal no DF, mas ele recusou os convites do PT por acreditar que o governador tampão deve ser escolhido num consenso das forças políticas.

A unidade em torno de Sigmaringa até poderia ocorrer se não houvesse o receio de que ele, eleito para o mandato-tampão, se tornasse concorrente forte do PT. O que está em jogo não é apenas a solução para uma crise ética. Está em jogo a própria democracia, o fim da autonomia política, afirma Sigmaringa sobre a disputa na Câmara. Com a recusa de Sigmaringa, no PT, há simpáticos à possível candidatura do ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF) Luiz Felipe Coelho, também considerado aceito no meio jurídico e neutro em relação às candidaturas majoritárias.

Filiado ao PTB, Coelho é um dos nomes do partido presidido pelo senador Gim Argello. Mas a legenda só deverá fechar posição hoje à tarde, pouco antes do fim do prazo para o registro das chapas. A palavra final será de Gim, provável candidato ao GDF em outubro. O escolhido pelo DEM para a eleição na Câmara, o ex-deputado Osório Adriano, esteve ontem na sede do PTB, para oferecer uma aliança, mas ele deverá ser impedido de concorrer por determinação da direção nacional do DEM. Há expectativa de que a briga com o deputado Alberto Fraga pela indicação atrapalhe os planos para outubro da legenda já abatida com os problemas de Arruda e Paulo Octávio.

1 - Exemplo do Norte Eleito pela Assembleia Legislativa do Tocantins em setembro passado depois da cassação do governador Marcelo Miranda, o atual governador Carlos Henrique Gaguim (PMDB) é um caso emblemático para o DF. Gaguim era deputado estadual e presidente da Assembleia Legislativa do estado. Eleito com o voto dos deputados estaduais, é candidato à reeleição.

Chapas na última hora

Samanta Sallum

Está marcada para o último minuto do prazo a definição das candidaturas à eleição indireta para governador. As chapas têm de ser registradas até as 18h de hoje. Mesmo com o tempo se esgotando, o cenário ainda está embolado. Partidos como PTB e PT têm reuniões internas marcadas durante o dia antes de tomarem posição. O DEM lançou ontem o nome do suplente de deputado federal Osório Adriano, mas a candidatura abriu crise no partido e corre risco de não sobreviver. E o PSC saiu da disputa com a desistência ontem do ex-presidente do Tribunal de Contas do DF, Paulo César Ávila.

O PR aposta na candidatura do governador em exercício, Wilson Lima, mas estava com dificuldade em fechar um nome de outro partido para vice. Lima fez campanha ontem em almoço com alguns distritais. Tentou buscar o apoio do chamado grupo dos 11, que está unido para apoiar um nome. O mistério é qual nome. O cotado seria o pastor Aguinaldo de Jesus (PR). Vamos aguardar a hora certa para definir isso, comentou ontem à noite o distrital.

Em reunião da executiva regional, o DEM definiu ontem de manhã que Osório Adriano seria o candidato. Dos 13 presentes, Adriano teve 9 votos. O deputado federal Alberto Fraga contestou o resultado. Segundo ele, a nova composição do diretório dava vantagem a Adriano. Fraga esperava ser o escolhido do partido. Isso foi um jogo de chacrinha. Um tapetão, reclamou. Osório Adriano passou a tarde buscando apoio de outros partidos. Busco uma candidatura de conciliação. Quero fazer um governo que garanta a tranquilidade institucional a Brasília, disse.

Compromisso O diretório regional do PT se reúne hoje às 13h para definir se terá ou não candidato próprio. Nesse momento, é mais importante o compromisso com a cidade em uma gestão de saneamento do que nomes ou partidos, defende o distrital Chico Leite (PT).

O PTB também se reúne hoje para avaliar se vai lançar um candidato próprio ou se vai compor com algum partido. O PDT não tinha decidido até ontem à noite que rumo tomar. Vou me abster desta eleição se nenhuma candidatura apresentada se encaixar no conjunto de compromissos que defendo, como a redução de cargos comissionados e a publicação dos gastos do GDF na internet, comentou o deputado José Antônio Reguffe (PDT).

O jogo é duro. Estão loteando o DF nessa campanha. Não tenho o que negociar e se tivesse não negociaria. Dessa forma, não teria chance. Meu discurso da impessoalidade parece não agradar os deputados distritais, justificou Paulo César Ávila (PSC) ao decidir não concorrer.

Encontro sobre o PAC

As obras do DF que receberam verbas federais do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foram o tema de uma reunião entre a cúpula do Executivo local e a ministra-chefe da Casa Civil, Erenice Guerra. O encontro ocorreu a portas fechadas e, segundo o Correio apurou, não se falou do relatório da Controladoria-Geral da União (CGU), que aponta indícios de irregularidades em obras custeadas pelo governo federal em Brasília. O governador interino Wilson Lima (PR) chegou acompanhado de assessores.

O secretário de Transportes, Jaime Alarcão, garantiu que a ministra quis saber do GDF como está o cronograma das obras. Não tratamos do relatório da CGU, mesmo porque não recebemos ainda. Segundo Alarcão, a conversa foi técnica e ficou restrita às obras em andamento ou em fase de licitação. Explicamos que tivemos algumas dificuldades com licitações em que não apareceu nenhum interessado. Nesses casos, ainda não iniciamos as obras, disse.

Uma das explicações para o desinteresse é o uso de uma tabela que considera o preço dos materiais igual para todo o país. No DF, alguns itens são mais caros, explica Alarcão. Entre as obras do PAC estão as de infraestrutura no Arapoanga e em Mestre DArmas, em Planaltina, além da construção de casas populares na Estrutural, na Vila Denoc e em Ceilândia.

Poder

12 votos Quantidade necessária para a Câmara eleger o governador-tampão

257 dias Duração do mandato do governador eleito indiretamente

25 semanas e meia Tempo que falta para as eleições gerais de 3 de outubro

1,76 milhão Total de eleitores no Distrito Federal gerais de 3 de outubro