Título: "Abordam-me como se eu não tivesse opção", diz FHC sobre disputa em SP
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 08/04/2005, Política, p. A8

Horas antes de embarcar para Roma com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso analisava, ao lado de cinco integrantes da cúpula do PSDB, as chances de a oposição voltar ao poder em 2007. Em jantar na noite de terça-feira na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), em Brasília, o ex-presidente esbanjava bom humor e descontração, segundo relato dos presentes. Para Fernando Henrique, o PSDB está no páreo e as candidaturas da oposição são competitivas. Estavam presentes, além de Tasso, os senadores Eduardo Azeredo (MG), Arthur Virgílio (AM) e Sérgio Guerra (PE); o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP), e o chefe da Casa Civil do governo de São Paulo, Arnaldo Madeira. A estratégia, na avaliação do ex-presidente, deve ser expor de forma natural à sociedade os pré-candidatos óbvios do PSDB - os governadores Geraldo Alckmin e Aécio Neves -, mas sem que essa ação seja identificada como lançamento de candidaturas. A exposição, inclusive de Fernando Henrique, será feita sobretudo nas inserções partidárias, veiculadas em rede nacional de rádio e televisão. A cúpula tucana interpreta de maneira diferente a possibilidade de Fernando Henrique se lançar candidato em 2006. Para alguns, o excesso de otimismo do presidente é um sinal claro de que ele cogita apresentar-se como candidato. Para outros, Fernando Henrique não deixa dúvidas de que quer apenas coordenar o projeto e pensa na própria candidatura apenas numa hipótese extrema. "O presidente Fernando Henrique acha que o melhor é deixar o tempo correr, que a solução virá com naturalidade", definiu um político do PSDB. Fernando Henrique não prevê nenhuma dificuldade econômica até o fim do mandato de Lula, e acredita que o quadro internacional também tende a manter-se estável. Mas, repete um alerta: "A crise acontece quando o céu está azul" e, portanto, a vigilância na política externa é exigência crucial a qualquer governo. Sobre o crescimento econômico, o ex-presidente acredita que o melhor ano foi 2004, e tais condições não se repetirão. O êxito do governo Lula não depende só de indicadores econômicos, analisou ele, mas, sobretudo, da administração da máquina e das condições políticas construídas pelo PT. Uma das chances de competição do PSDB na reeleição de Lula está no fato, conforme análise do ex-presidente, de o partido ter-se consolidado em São Paulo. "São Paulo tucanou", definiu ele. A imagem do governador Geraldo Alckmin é boa e a administração de José Serra na capital deve mostrar resultados satisfatórios, assinalou. O ex-presidente falou sobre as insinuações de que pode candidatar-se ao governo de São Paulo. Contou aos colegas de partido que sempre é abordado como se a candidatura ao governo de São Paulo fosse a única alternativa que lhe resta. "Como se eu não tivesse outra opção", ironizou. O ex-presidente sugeriu ainda que o PSDB assuma a reforma política como uma bandeira na próxima eleição. Como há uma frustração e indignação generalizada da sociedade com o sistema político, o tema deve despertar interesse do eleitorado. A aposta dos tucanos é que não será possível votar a reforma antes de 2006. O jantar durou pouco mais de duas horas. O ex-presidente queria dormir cedo, preparando-se para o vôo na comitiva presidencial. Ele disse não sentir constrangimento em viajar com Lula, apesar das críticas ácidas do PSDB à compra da aeronave, pois convite de presidente da República não se pode rejeitar e, portanto, a ele não restou outra alternativa. No mesmo dia em que Fernando Henrique fazia um esboço das estratégias do PSDB, o prefeito de São Paulo, José Serra, participava de outro jantar em Brasília, na casa do deputado Sebastião Madeira (MA), presidente do Instituto Teotônio Vilela. O prefeito sugeriu que o instituto prepare os prefeitos tucanos para debates nacionais que vão prevalecer em 2006, incluindo, entre os temas, as agências reguladoras, a política fiscal, os juros e o Prouni.