Título: Índice de sustentabilidade empresarial: sinal de modernidade
Autor: Francisco Petros
Fonte: Valor Econômico, 07/04/2005, EU &, p. D2

Não resta dúvida de que assumir a vanguarda remete os seus agentes para um campo de controvérsias e contestações. É parte inerente do jogo, muitas vezes marcado pelas incompreensões. Na maioria das vezes, as críticas às posições de vanguarda surgem motivadas por interesses longamente consolidados. Emergem como se fossem imperativos da ordem econômica, social ou política. Não obstante o fato de que estes interesses (status quo) terem ou não legitimidade, é preciso que não percamos a perspectiva de que a vanguarda é necessária para a transformação intestina dos sistemas sob os quais vivemos. Não fosse assim, ainda prevaleceria a escravidão, a ausência dos direitos das minorias, a falta de liberdade política e de expressão etc. Vanguarda não equivale ao vanguardismo descomprometido com a construção de "novas ordens" ao tempo em que as "velhas ordens" são superadas. Vanguarda deve ser responsável, proponente e conseqüente nas suas ações. É inegável que no mundo capitalista a "sustentação" de um negócio depende primariamente de sua viabilidade econômica. Ou seja, tem de haver compatibilidade entre os riscos do negócio e os retornos obtidos e esperados ao longo do tempo. Modernamente, o conceito de eficiência econômica foi ampliado e os fatores humanos, os de impacto ambiental, os relacionados com os interesses de saúde e bem-estar social passaram a ser incorporados dentro do conceito de eficiência empresarial. A razão dessa ampliação se deve à percepção cada vez mais comum de que os desequilíbrios originados no sistema capitalista requerem crescente atenção para que seu desenvolvimento ocorra de maneira equilibrada e, por conseguinte, sustentada. Ou seja, a defesa da sustentabilidade decorre da necessidade visível de modernização do capitalismo. Isso está diretamente relacionado à proteção da natureza, do indivíduo, das comunidades menos favorecidas e excluídas, com a defesa da saúde pública, etc. Desenvolvimento não é um fenômeno que possa ser visto somente de uma forma. Não é possível remetê-lo ao exclusivismo dos resultados econômicos e financeiros. É necessário estabelecer um conjunto de valores que sejam aceitos por cada um de nós, mas que também sejam consagrados pela aceitação de todos. Neste sentido, a educação e a difusão das idéias ganham uma dimensão essencial no conceito da sustentabilidade. Considerando isso, é justo saudar os estudos para a elaboração do Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) a ser lançado pela Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). Trata-se de um referencial importante para os investidores uma vez que a dimensão de responsabilidade social, ambiental e os compromissos com a ética nos negócios são assuntos cada vez mais relevantes para as decisões de investimento. Além de importante para toda a sociedade, a sustentabilidade é um aspecto que assume a cada dia importância no estudo dos riscos e das expectativas de retorno dos ativos negociados no mercado financeiro e de capital. Seja no Brasil, seja no exterior. Esta é uma visão verdadeiramente "republicana" - no sentido clássico da palavra - transladada para o mundo dos negócios, algo que não é inseparável do cotidiano dos cidadãos como alguns imaginam. Não é à toa que nas sociedades mais desenvolvidas, os temas abarcados pelo conceito da sustentabilidade são essenciais para a sociedade e os investidores e merecem rigorosa supervisão por parte de Organizações Não-Governamentais (ONGs) e da parte do próprio poder público. Afinal de contas, o aquecimento global do planeta, as disparidades sociais entre países e continentes, a utilização crescente de recursos não-renováveis, etc. são assuntos diariamente discutidos ao redor do planeta. Do ponto de vista dos mercados financeiro e de capital, é preciso que se entenda que o ISE não é um índice de ações que exclui empresas. Ao contrário, o seu objetivo é o de incluir empresas e negócios que, a despeito dos seus riscos implícitos, cumprem um papel responsável no que se refere ao meio ambiente, ao contexto social no qual estão inseridos e ao compromisso com a minimização dos impactos negativos que seus negócios possam eventualmente criar. E este é um ponto fundamental: o caráter de excelência e de inclusão do ISE é a gênese de qualquer índice de sustentabilidade. Ademais, é preciso reconhecer que a Bovespa agiu com extraordinária responsabilidade na constituição da comissão deliberativa que a auxilia na discussão sobre os critérios sob os quais será definida a composição do ISE. Participam desta comissão entidades com larga experiência nos assuntos relacionados com o tema da sustentabilidade: a Fundação Getúlio Vargas-SP, por meio de seu Centro de Estudos de Sustentabilidade, a Associação Nacional de Bancos de Investimentos (Anbid), a Associação Brasileira das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (Abrapp), a Associação Brasileira dos Analistas e Profissionais de Investimentos do Mercado de Capitais (Apimec), o Instituto Brasileiro de Estudos Sociais e Econômicos (IBASE), o Instituto ETHOS, o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) e o Internacional Finance Corporation (IFC) - braço financeiro do Banco Mundial. São todas entidades de excelente reputação e que há um bom tempo participam dos debates de temas de interesse público e do mercado de capital. O ISE tem de ser visto dentro desta visão moderna. O da difusão legítima e democrática da informação. Educando e informando os investidores, especialmente os das novas gerações, para que percebam que também nos negócios do mundo global, os valores humanos e o meio ambiente são indissociáveis da busca pela eficiência econômica.