Título: No Brasil, mais antigos ainda não chegaram aos 200 anos
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2005, Empresas &, p. B4

O passado colonial e escravocrata tolheu o desenvolvimento de empresas no país por 300 anos. Não há no Brasil nenhuma companhia bicentenária. As três mais antigas empresas brasileiras em contínuo funcionamento são jornais, todos hoje pertencentes ao condomínio dos Diários Associados: o "Diário de Pernambuco", do Recife, começou a circular em 1825. Dois anos depois, entrou em circulação o "Jornal do Commercio", do Rio. Em 1834, era fundado o "Monitor Campista", de Campos (RJ). Entre as sobreviventes do Império, o grupo cearense de bebidas Ypioca é o mais antigo a jamais ter trocado o controle acionário. Pertence à família Telles desde 1846. Na área financeira, o recorde de longevidade é do grupo de previdência complementar Mongeral, do Rio, criado em 1835, para atender aos servidores públicos. Na fase colonial, as atividades econômicas de maior expressão eram em geral exploradas em regime de monopólio, concedido pela Coroa a um empreendedor por um determinado período. O primeiro a receber uma concessão deste tipo foi Fernando de Noronha, em 1504. Cabia ao fidalgo armar expedições para cortar pau-brasil, devendo em troca entregar à Coroa 20% da madeira que cortasse. Diante do intenso contrabando de madeira praticado por franceses, a exploração de Noronha não foi bem-sucedida. A primeira sociedade a ser criada no país ajudou a matar a iniciativa privada. Em 1649, dom João IV criou a Companhia Geral do Comércio do Brasil. No molde das companhias de comércio da época, a empresa monopolizava as importações e exportações da maioria dos produtos da colônia. Para garantir a falta de concorrência para a farinha e o vinho português trazidos pela companhia, as autoridades coloniais proibiram a moagem de grãos e a destilação de bebidas. A desobediência poderia ser punida com a morte. Os acionistas da companhia também estavam longe de ser empreendedores: a maioria das cotas era dinheiro de judeus convertidos, ou "cristãos novos". Para escaparem do confisco de seus bens pela Inquisição, o governo português apresentava como "alternativa" aos judeus ajudarem a integralizar o capital da empresa, da qual não tinham acesso à direção e nem podiam se desfazer de suas cotas. Em 1694, a coroa portuguesa estatizou a empresa, que seria extinta, junto com outras companhias comerciais, em 1778, por dona Maria I. O fim das companhias monopolizadoras não significou melhor ambiente de negócios na colônia. Pelo contrário: foi Maria I, cognominada "a louca", que em 1785 proibiu a produção de qualquer peça de pano na colônia e em 1789 ameaçou promover uma derrama de impostos que provocou a Inconfidência Mineira e a execução de Tiradentes. A vinda de dom João VI, o filho da rainha para o Brasil, mudou tudo. As restrições às manufaturas foram derrubadas em 1808, um Banco do Brasil foi fundado na mesma ocasião e no ano seguinte foi instituída a Junta de Comércio, Indústria e Agricultura para o registro das empresas. Mas a falta de capital para inversões e de um mercado consumidor doméstico frustraram as primeiras iniciativas empresariais.