Título: Perdas da matriz levam holandês ING a reduzir seu time no Brasil
Autor: Lucchesi, Cristiane Perini
Fonte: Valor Econômico, 26/02/2009, Finanças, p. E1

Por conta das dificuldades da matriz, o banco holandês ING está reduzindo drasticamente sua atividade no Brasil. Dos cerca de 105 funcionários contratados, 25 já foram demitidos na sexta-feira da semana passada. Haverá mais enxugamento nos próximos 30 a 60 dias. As informações que circulavam no mercado, de que o banco vai deixar o país e ficar apenas com escritório de representação, não foram confirmadas pelo presidente, Deiwes Rubira de Assis. Mas ele é um dos que também está se desligando da instituição financeira após mais de 18 anos de casa. Emiliano Capozoli / Valor

Rubira de Assis, presidente do ING e da ABBI, que está se desligando dos dois. Ele nega decisão do banco de deixar o país

"Não temos um número definido de demissões ainda", afirma. "Claro que o futuro a Deus pertence, mas não fomos comunicados de nenhuma decisão de a instituição deixar o país e não há meta de redução de ativos", afirma o executivo, que também é presidente da Associação Brasileira dos Bancos Internacionais (ABBI) desde 2008 e está se desligando da entidade. Com Assis, já está confirmada a saída de Alexandre Rezende, responsável pela área de corporate e banco de investimento do ING, que tinha cerca de 15 anos no banco.

Todo o time de fusões e aquisições da instituição financeira - incluído aí Marcos Rezende, o responsável, mais cinco pessoas - está saindo, pois o ING resolveu deixar de atuar no segmento. "Diante da crise, o banco resolveu se concentrar nos seus negócios principais", explica Assis.

No Brasil desde 1980, o ING atua hoje no mercado de empréstimos externos ao país, principalmente o vinculado ao comércio exterior e para o setor de commodities. Também tem atividade de tesouraria e atende às grandes corporações. Atua como líder na emissão de papéis de empresas e bancos brasileiros no mercado externo. "Todas as áreas terão redução de pessoal", diz Assis.

O ING tinha patrimônio líquido de R$ 743,95 milhões em novembro de 2008 no Brasil, um aumento de 60% na comparação com o mesmo mês de 2007, segundo informou ao Banco Central. Seus ativos eram de R$ 7,5 bilhões, mais do que o dobro dos R$ 2,7 bilhões em novembro de 2007. Parte de seus ativos com risco-Brasil, no entanto, são contabilizados fora do país.

Segundo Assis, os cortes de pessoal no Brasil fazem parte do enxugamento global que a instituição financeira está promovendo após prejuízo de 729 milhões de euros no ano passado. O grupo já recebeu em outubro uma injeção de capital de 10 bilhões de euros do governo holandês, além de ajuda estatal sob a forma de garantias para emissão de títulos e cobertura de 80% dos 27,7 bilhões de euros de seus ativos podres.

Sua meta é reduzir as despesas operacionais em 1 bilhão de euros, 325 milhões de euros no banco de atacado, do qual a filial brasileira faz parte. Serão demitidos 7 mil funcionários no mundo todo, 1,5 mil no banco de atacado. Como parte das medidas de contenção de despesas, o banco anunciou que deixará de patrocinar a equipe Renault de Fórmula 1 no final da temporada de 2009.

No lugar de Alexandre Rezende assume Rogério Monori, que já estava no ING. O responsável pela tesouraria no Brasil é Luis Philipe Biolchini. O holandês Mark Wolthuis cuida da área de financiamento ao comércio exterior e ao setor de commodities. O banco não definiu quem vai substituir Assis. "Monori, Biolchini e Wolthuis serão os três líderes do banco no Brasil antes que um substituto para mim seja escolhido", afirma Assis.

O ING ficou especialmente conhecido no país nos anos 90, pois era um dos principais participantes no mercado de títulos da dívida externa de países emergentes. Forte no setor de seguros, cogitou comprar a Porto Seguro no Brasil, mas as negociações não avançaram. Chegou a ter ativos totais de mais de US$ 5,5 bilhões com risco-Brasil e um número de funcionário de mais de 250 pessoas, que foram reduzidos para respectivos US$ 2 bilhões e 160 após a crise da Ásia, em 1997, e da Rússia, em 1998. O banco foi encolhendo ainda mais com a crise cambial e eleitoral do Brasil e a moratória Argentina. O ING voltou a crescer no Brasil no início de 2004, já sob o comando de Assis. Mas agora parte para um enxugamento forçado.

Pelo ING passaram nomes de peso no mercado financeiro brasileiro, como José Berenguer, Fernando Gentil, Pedro Barbosa, Marta Alves, Fernando Blanco, Marcelo de Carvalho, Carlos Craide, Luiz Forbes e Mário Schneider, entre outros. O banco anunciou recentemente sua mudança de escritório em São Paulo, antes na avenida Faria Lima, para o Edifício J.K. Financial Center, localizado na avenida Presidente Juscelino Kubitschek, 510.

O ING é o segundo banco europeu a reduzir drasticamente atividades no país por causa de crise na matriz. O alemão Dresdner, adquirido pelo Commerzbank, está vendendo seus ativos no Brasil, de R$ 2 bilhões, e pretende fechar o banco.