Título: Nos EUA, livros digitais chegam ao telefone celular
Autor: Kharif , Olga
Fonte: Valor Econômico, 13/01/2009, Empresas, p. B2

Adam Parks é um leitor ávido de livros digitais. Mas você não o verá baixando os cerca de 20 títulos que ele lê todos os anos em um leitor eletrônico como o Kindle da Amazon.com, ou o Reader da Sony. Em vez disso, Parks folheia as páginas digitais de "A Arte da Guerra", de Sun Tzu, e outras obras em seu iPhone, da Apple. "Viajo muito", diz Parks, um executivo de marketing que mora em Palm Beach, na Flórida. "Se você pula de aeroporto para aeroporto, de cidade para cidade, não vale muito a pena carregar um equipamento a mais."

A Amazon e a Sony vêm brigando uma com a outra para criar o livro eletrônico definitivo. Mas a solução para os leitores que vivem em trânsito poderá acabar sendo algo muito mais simples. Um número crescente de pessoas como Parks estão se voltando para seus telefones móveis para a leitura. Os telefones podem não ter as telas grandes e a tecnologia sofisticada de um Kindle ou um Reader, mas eles têm a vantagem de estar ao alcance da mão a maior parte do tempo. Eles também poupam entre US$ 250 e US$ 360 aos consumidores, a despesa que eles teriam com um leitor eletrônico.

Está ficando muito mais fácil conseguir livros pelos telefones celulares. Empresas de todas as partes do mundo vêm criando páginas na internet onde as pessoas podem baixar dezenas de livros, especialmente os clássicos, que não têm a proteção dos direitos autorais e estão sempre disponíveis gratuitamente.

Uma companhia iniciante ucraniana chamada Readdle criou um software gratuito que permite às pessoas obterem a obra de William Shakespeare (em inglês) por meio do iPhone ou do iPod, da Apple. "Hamlet", "Rei Lear" e outras três dúzias de obras já foram baixadas mais de 300 mil vezes. (A Readdle ganha dinheiro vendendo capacidade de arquivamento on-line para os usuários do iPhone e outros.)

É difícil superar os preços de alguns livros para o mercado da telefonia móvel. Enquanto títulos novos como "Twilight" podem custar tanto quanto um livro em capa mole, muitos clássicos estão disponíveis por US$ 0,99 ou menos. Um dos livros mais adquiridos na loja on-line da Apple, a iTunes, é uma coleção de 14 livros infantis vendidos a US$ 0,99 o pacote, que inclui "Alice no País das Maravilhas", "As Viagens de Gulliver" e "Robinson Crusoe". Na loja do Kindle da Amazon, somente "Alice no País das Maravilhas" custa entre US$ 0,99 e US$ 2. Na Borders, o menor preço para o livro de Lewis Carroll é US$ 3.

Algumas editoras vêem a crescente popularidade dos livros digitais para celulares como uma oportunidade promissora de aumentar as vendas. "Nós, editoras, estamos tendo uma chance de atingir um público maior, talvez pessoas que nunca entrariam em uma livraria", diz Matt Shatz, vice-presidente de livros digitais da Random House. Embora a receita por livro possa ser menor, os lucros dos livros digitais poderão ser maiores, uma vez que não há custos de impressão e distribuição. Shatz acredita que a telefonia móvel se tornará o meio mais popular de se ler livros digitais nos próximos anos. "A oportunidade é muito maior por meio de um telefone do que um livro fisicamente impresso", diz ele.

Um dos fatores é o tamanho enorme do mercado em potencial. Analistas estimam que os fabricantes de leitores eletrônicos de livros venderam menos de 1 milhão de unidades desde que esses aparelhos foram lançados. O número de telefones avançados que podem baixar livros é de pelo menos 295 milhões, incluindo cerca de 18 milhões de iPhones. Representantes da Amazon e da Sony não quiseram fazer comentários.

As editoras estão mirando os iPhones e outros aparelhos portáteis. A Random House começou a disponibilizar alguns de seus best-sellers para o iPhone em dezembro, um negócio no qual a Apple recolhe dinheiro com as vendas e depois distribui uma parte para as editoras. A Randon House agora pretende ampliar seus esforços para outros telefones, como o BlackBerry da Research In Motion , e aparelhos que rodam o Android, um sistema operacional para celulares desenvolvido pelo Google. "Temos interesse em trabalhar com todo mundo", diz Shatz. "Nosso trabalho é ajudar nossos autores a atingirem o maior público possível." (Tradução de Mário Zamarian)