Título: EPE reduz projeções de crescimento do consumo de energia em 2008 e 2009
Autor: Schüffner , Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 09/12/2008, Brasil, p. A3

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) refez suas previsões de crescimento do consumo de energia este ano e em 2009. Em 2008, o crescimento do consumo previsto era de 4,9% e agora caiu para 4%. Para o ano que vem, a previsão de que o consumo cresceria 5,8% foi revista para 5,2%. De 2010 em diante, o crescimento esperado continua sendo de 5%. O presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, explica que a mudança nas projeções implica redução de 854 megawatts médios (MWmed) no consumo programado entre 2008 e 2012. Isso equivale a mil megawatts (MW) de potência a menos, que terão que ser acrescentados nos planos da EPE para aumento da oferta de energia. Marisa Cauduro/Valor

Maurício Tolmasquim, da EPE: consumo sobe 4% este ano e 5,2% em 2009

Em entrevista ao Valor, Tolmasquim explicou que ainda não é possível captar o tamanho da retração do consumo de energia pela indústria, já que os dados de consumo por categoria de uso são enviados pelas distribuidoras somente um mês após a cobrança. Isso significa que os dados de novembro serão conhecidos apenas no fim de dezembro.

Mesmo assim, na última revisão a EPE adotou como novas premissas a restrição ao crédito, a redução do comércio internacional e o abalo na confiança do investidor, que atingiram a economia brasileira. "São incertas ainda a duração e a intensidade da crise. Isso não temos como saber", ressalta Tolmasquim.

Nos novos cálculos de consumo de energia feitos pela EPE, 65% dos efeitos sobre o consumo de energia em 2008 foram atribuídos a efeitos climáticos e apenas 32% a fatores econômicos. Já na previsão de 2009, o cenário econômico é responsável por 83% e os 17% restantes se devem ao atraso na linha de transmissão que vai ligar Acre e Rondônia ao sistema interligado nacional, aumentando com isso a demanda por energia. A linha só entrará em operação em maio de 2009, quando a previsão anterior era novembro deste ano.

A dificuldade de mensurar o tamanho da retração do mercado de energia em função da crise - mesmo com as paradas de produção da Vale, montadoras e das siderúrgicas, só para citar alguns - se deve a alguns fatores conjunturais ocorridos este ano e que estão atrapalhando as projeções. Entre eles está a queda da temperatura, que este ano ficou 2°C abaixo da média entre janeiro e julho, o que se reflete no consumo de energia, principalmente no verão. No mesmo período a EPE observou redução de 2.524 gigawatts/hora (Gw/h) no consumo, o equivalente a 1,1% do que anteriormente programado.

Tolmasquim afirma que essa queda tem algumas razões estruturais e outras conjunturais. Entre as conjunturais, está o fato de, nos últimos anos, o consumo de energia estar mais aderente ao crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Se antes o consumo crescia 2,5% para cada 1% do PIB, agora essa proporção é de pouco mais de 1%. Entre 2002 e 2008, os setores de baixa intensidade energética cresceram 32%, enquanto os de alta intensidade tiveram aumento menor, de 23%.

"O consumo dos eletrointensivos está crescendo menos que os outros. É uma mudança na estrutura do parque industrial, que traz uma mudança do peso relativo dos setores. Aumentaram a eficiência e a autoprodução", diz o presidente da EPE, citando como exemplos de uso mais eficiente os setores petroquímico, siderúrgico, papel e celulose e sucroalcooleiro.