Título: Brasil exporta plano para elevar consumo de café
Autor: Mônica Scaramuzzo
Fonte: Valor Econômico, 22/02/2005, Agronegócios, p. B10

Um programa de estímulo ao consumo de café desenvolvido no Brasil será usado como exemplo a ser seguido por outros países produtores. Contratada pela Organização Internacional do Café (OIC) para elaborar um estudo de fomento para esses mercados, a consultoria brasileira P&A usou o "case" doméstico como base para as estratégias a serem desenvolvidas. O resultado do estudo foi apresentado em janeiro à OIC, e já começa ser desenvolvido na Índia. Segundo Carlos Brando, diretor da P&A, a consultoria visitou em 2004 sete países - Vietnã, Quênia, Uganda, Colômbia, Índia, México e Guatemala -, e traçou um perfil com os hábitos de consumo de cada um deles para a elaboração de ações e ferramentas específicas. O objetivo da OIC é estimular o consumo de café nos países produtores, numa tentativa de colaborar para o equilíbrio entre oferta e demanda mundial. O consumo global está em torno de 110 milhões de sacas, dos quais 28 milhões são consumidos pelos países produtores. O Brasil, maior produtor, consome metade desse café e responde pela maior demanda per capita entre os produtores (4,5 quilos/ano). O Vietnã, segundo maior produtor, consome 0,4 quilos/ano, e a Colômbia, 2 quilos por ano. Brando lembrou que o combate das indústrias brasileiras às impurezas do café - alvo de programa implementado em 1989 - colaborou para o aumento do consumo interno. "Uma pesquisa feita pela ABIC [entidade que reúne indústrias] revelou que os consumidores estavam reduzindo o consumo de café porque achavam que a bebida tinha má qualidade". Em 1989, o consumo era de 7,5 milhões de sacas, e passou para 11,5 milhões de sacas em 1997 - crescimento de 53%. Nesse período, as indústrias investiram US$ 30 milhões em programas de combate à impureza e qualidade dos grãos e marketing, segundo Nathan Herszkowicz, diretor da Abic. Vale lembrar que o Plano Real, de 1994, aumentou a renda da população e também estimulou o consumo. Com o programa de qualidade, em vigor desde 2004, o país passou a consumir 15 milhões, 9% mais que em 2003. A mesma percepção sobre as impurezas teve a população da Colômbia em relação ao grão consumido em seu país. A sugestão da P&A é investir no programa de Selo de Pureza, como no Brasil, e partir para um programa de qualidade. A Colômbia é um dos maiores consumidores de chocolate quente. As recomendações são feitas com base em costumes, levando-se em conta renda e opinião dos consumidores. No caso da China, por exemplo, a estratégia passa pelo café solúvel. "Os chineses têm a tradição milenar de beber chá. A praticidade do café solúvel pode atrair boa parte dos consumidores", disse Brando. Filtros de papel mais baratos podem estimular o consumo em países com população de baixa renda. Em países com população jovem, caso também da China, o consumo fora do lar faz parte da estratégia. "Os jovens dos países orientais associam café à modernidade. Por isso, a expansão de cafeterias naquele país estimula o consumo. A estratégia é fazer do café uma bebida social, que também vale para os centro-americanos". Para Mauro Malta, da Abics (entidade que reúne as indústrias de café solúvel), a vantagem desse estudo foi mostrar a esses países que é possível ter um programa estruturado para elevar o consumo. Herszkowicz, da Abic, observou que o maior consumo no Brasil, que ganhou força na metade da década de 90, despertou o interesse das multinacionais pelo país, casos de Sara Lee e Strauss-Elite.