Título: 13° vai recuperar crédito para o Natal
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 11/11/2009, Economia, p. 11

Procura por empréstimos cai 4,1% em três meses e só não comprometerá vendas de fim de ano por causa do reforço salarial. Dívidas serão pagas e trocadas por novas

Com os incentivos do governo ao consumo, o brasileiro gastou muito e impulsionou a economia, mas também comprometeu o orçamento familiar com financiamentos de longo prazo. Por isso, o consumidor chegou a novembro com capacidade de endividamento reduzida. De acordo com relatório da Serasa Experian, entre agosto e outubro, a procura por empréstimos caiu 4,1%, depois de crescer 7,59% de maio a julho por causa das compras de veículos, geladeiras, máquinas de lavar e fogões.

¿O crescimento da renda não acompanhou com a mesma velocidade a procura por crédito e as pessoas passaram a agir racionalmente para não gastar mais do que podem¿, explicou o gerente de indicadores da Serasa Experian, Luiz Rabi. Mas, mesmo com o brasileiro apertado, não haverá problemas para as festas de fim de ano, especialmente porque o 13º salário (leia texto abaixo) dará novo fôlego à capacidade de endividamento.

Com a entrada de quase R$ 85 bilhões na economia com o 13º, a expectativa é que a primeira parcela do benefício seja usada para quitar débitos e, consequentemente, para que o consumidor recupere a capacidade de fazer compras a prazo. A segunda será utilizada como incremento na compra de presentes e para a preparação das festas de fim de ano.

Para o consultor do Centro de Estudos Equifax, Alcides Leite, o brasileiro deveria aprender a se endividar mais e com qualidade. ¿Não somos tão endividados quanto sãos os americanos e os europeus.¿ De acordo com especialistas, os reflexos das compras de Natal serão sentidos mais à frente, em 2010, nas taxas de demanda por crédito: a busca por financiamento continuará a crescer, mas a índices moderados. ¿Se a taxa de juros na ponta (para o consumidor) se mantiver nos níveis atuais, é provável que essa expansão continue¿, afirmou o consultor da Equifax.

O número Trimestre 7,59% Aumento da procura por empréstimos de maio a julho no Brasil, segundo a Serasa

Visão de especialista Estímulo às compras

Para o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizaro, mesmo que os orçamentos das famílias estejam mais apertados por conta de financiamentos de longo prazo e da antecipação de compras, estimuladas por desonerações, o brasileiro continuará a comprar. O 13º salário e a restituição gorda do imposto de renda, ambas marcadas para chegarem à economia em novembro e dezembro, irão recuperar o bolso do consumidor e fazer com que ele possa tomar mais crédito. ¿Estou muito otimista em relação ao

Natal. Espero um crescimento real de 9% nas vendas do varejo.¿

Segundo ele, o consumidor de hoje é diferente do que existia no pré-crise. ¿Está mais exigente em relação a qualidade e preço. Não está jogando dinheiro fora.¿ Essa nova postura dos clientes faz os produtos inferiores e os de alto valor perderem espaço para os que tem maior relação entre custo e benefício na avaliação de Pellizaro. Um exemplo disso são itens que quase não apareciam no ranking dos mais procurados no Natal, mas começam a registrar crescimento na demanda, como livros. ¿Esse segmento vem subindo e antes nem aparecia nas estatísticas, o que mostra que o Brasil tem evoluído no processo de consumo¿. (VM)

Injeção mínima de R$ 85 bi

Liana Verdini

Embora a crise econômica dê sinais incontestáveis de estar ficando para trás, suas consequências ainda repercutem no bolso dos brasileiros. Pesquisa divulgada ontem pela Associação Nacional dos Executivos de Finanças Administração e Contabilidade (Anefac) constatou que 64% das pessoas pretendem usar o 13º salário para pagar dívidas já contraídas. Um grupo de 17% tem a intenção de usar o dinheiro extra para compras e 10% quer poupar para pagar as contas do início do ano ¿ matrícula escolar, IPVA, IPTU etc. Outros 6% já receberam parte do dinheiro ou anteciparam o recebimento fazendo empréstimos em instituições financeiras.

¿Observamos uma mudança radical no comportamento das pessoas em relação ao verificado no ano passado¿, contou Miguel José Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Anefac. Quem já se programou para pagar as dívidas quer se ver livre, principalmente, das despesas com cheque especial (40%) e cartões de crédito (29%). Em terceiro lugar, a preocupação é em regularizar a situação de seus nomes junto a órgãos de proteção ao crédito, como SPC e Serasa (10%). Quem está livre das dívidas e planeja comprar quer gastar até R$ 500. Nesse caso, estão 67% daqueles que declararam intenção de aplicar o 13º na aquisição de algum bem.

Para impulsionar todo esse consumo, estão ingressando na economia brasileira no mínimo R$ 85 bilhões até o fim do ano, na forma do 13º salário, equivalentes a 2,8% do Produto Interno Bruto (soma das riquezas produzidas no país). A estimativa é do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), que calcula um aumento de 8,7% em relação a 2008. Esse montante corresponde ao que os empregados com carteira assinada, aposentados e pensionistas têm direito a receber. Um universo de cerca de 70 milhões de pessoas.

Neste cálculo não foram considerados os profissionais autônomos, como os taxistas, por exemplo. ¿Por isso, dizemos que o 13º corresponde a um mínimo de R$ 85 bilhões entrando na economia¿, explicou Silvestre.