Título: Ajuda federal contra ataques
Autor: Perroni, Juraci; Carvalho, Cleide
Fonte: O Globo, 16/02/2013, País, p. 3

Cerca de 350 soldados da Força Nacional de Segurança Pública desembarcaram ontem em Santa Catarina para ajudar a conter a onda de violência, que já alcançou 31 cidades do estado desde 30 de janeiro. Ontem, o número de ataques chegou a 101 - incluindo 38 ônibus queimados em vias públicas.

O envio dos militares havia sido autorizado pelo Ministério da Justiça após uma reunião entre o governador Raimundo Colombo (PSD) e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, na última quarta-feira. Os ataques são comandados por presidiários, segundo a polícia do estado, em protesto por maus-tratos nas cadeias catarinenses.

A tensão na Região Metropolitana de Florianópolis aumentou ontem com o horário reduzido na circulação de ônibus. Motoristas e cobradores decidiram trabalhar apenas de 7h às 19h, devido à insegurança. Nas ruas, o clima foi de irritação entre os usuários dos coletivos, que enfrentaram filas, atrasos e superlotação.

Empresários e comerciantes reclamaram dos prejuízos. O comerciante Abdul Najmddine foi um deles. Segundo ele, o movimento de clientes diminuiu 30%; mesmo abrindo sua loja 30 minutos mais tarde, três funcionárias chegaram atrasadas.

- Desde que começaram os ataques, caiu o movimento. A população está com medo de vir ao Centro e sofrer um atentado ou ficar sem ônibus para voltar. Olha só como está, tudo parado - disse Abdul, apontando para a loja vazia.

Gilmara Bonin, uma das funcionárias de Abdul, contou que precisou andar muito para conseguir entrar num ônibus, pois todos passavam lotados.

- Mas não adiantou, cheguei atrasada - lamentou Gilmara.

Aurino Manoel dos Santos, dono de um açougue no mercado público, buscou os sete funcionários em casa. O açougue fornece para restaurantes e lanchonetes, e a entrega deve ser feita na primeira hora do dia.

- Pelo menos metade da clientela sumiu, medo dos atentados. É sempre a população que sofre - disse Santos.

O medo não é infundado. O aposentado Sebastião Máximo Dimas, de 62 anos, e sua mulher, Roseli, de 45 anos, enfrentaram momentos de pânico na madrugada de ontem no município de Içara. Por volta de 4h, ele levava a mulher para o trabalho e parou numa avenida. Dois homens numa moto renderam o casal e atearam fogo no carro. Foi o centésimo atentado registrado no estado desde o início da onda de violência.

- Ele colocou uma arma no meu pescoço e mandou a gente descer. Eu pedia pelo amor de Deus para não levarem o carro - disse Dimas.

Ônibus circulando até as 23h

Mesmo em plena luz do dia, os atentados prosseguiram. Por volta de 14h40m, um ônibus da empresa Canarinho foi incendiado com um coquetel molotov dentro de um posto de combustíveis em Guaramirim, no Norte do estado. As chamas foram controladas pelos próprios frentistas.

- A população está indignada. Há uma forte pressão para que seja encontrada uma solução. As pessoas estão inconformadas com os ataques - disse o juiz João Marcos Buch, da Vara de Execução Criminal de Joinville e conselheiro da Associação dos Juízes para a Democracia.

Diante dos protestos, no início da noite os trabalhadores concordaram em manter os ônibus circulando até 23h, encerrando o seu movimento. Mas o estrago da manhã já estava feito, e as escolas públicas mantiveram a suspensão das aulas à noite, por falta de tempo hábil para reverter a medida.

O primeiro avião da Força Aérea Brasileira com os militares pousou na base da Aeronáutica em Florianópolis às 15h. O desembarque das tropas foi acompanhado pela secretária nacional de Segurança Pública, Regina Miki; pelo secretário estadual de Segurança Pública, César Grubba; e pelo comandante da PM, coronel Nazareno Marcineiro.

O diretor da Força Nacional de Segurança Pública, Alexandre Aragon, chegou com os policiais e seguiu para o Centro de Treinamento da Polícia Militar. Apenas com o desembarque o governo do estado se pronunciou sobre a ajuda.

A cúpula da segurança catarinense reuniu a imprensa para informar a chegada das tropas federais, o que já era público àquela altura.

- A Força Nacional chegou a Santa Catarina e vai trabalhar no plano traçado por Santa Catarina, das forças de segurança do estado. O plano é uma ação integrada do estado com o governo federal - disse o secretário de Segurança Pública, César Grubba, que não deu detalhes. A única medida conhecida é a transferência de detentos para presídios federais em outros estados.