Título: Fundo soberano tem agora só R$ 2,9 bilhões
Autor: Carneiro, Lucianne; Bonfati, Cristiane
Fonte: O Globo, 05/01/2013, Economia, p. 24

O patrimônio líquido do Fundo Soberano do Brasil (FSB) é hoje de apenas R$ 2,9 bilhões. No dia 31 de dezembro, foi feito um resgate de R$ 12,4 bilhões para ajudar no cumprimento da meta de superávit primário (economia para pagamento dos juros da dívida), como confirmou ontem o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin. Quando foi criado, em dezembro de 2008, o FSB era de R$ 14,2 bilhões. E sua carteira tinha investimentos bem concentrados: em junho de 2012, 68,11% do patrimônio eram ações da Petrobras - que acumulam queda de 28,06% (ONs) e 20,23% (PNs) desde o fim de 2010 -, 8,8% eram papéis do Banco do Brasil e 22,95% eram títulos do Tesouro. O fundo foi um dos participantes da capitalização da Petrobras.

- O ideal de um fundo soberano é que aplique os recursos em outros países, comprando participações em empresas ou investindo em projetos de infraestrutura. Mas o que se vê pelo patrimônio hoje do FSB é que não foram feitas boas escolhas. Temos um valor pequeno para uma taxa de juros que cresceu muito. O fundo deveria estar mais bem capitalizado, não foi bem gerenciado - diz o economista da Tendências Consultoria Silvio Campos Neto.

As aplicações de fundos soberanos são geralmente em projetos de médio e longo prazo, muitas vezes no exterior. Mas também ocorre de eles serem usados para financiar governos, resgates ou pensões, segundo Michael Maduell, presidente do Instituto de Fundos Soberanos, uma organização que estuda o tema, com sede nos Estados Unidos.

Ele cita, no entanto, países em situação grave. Na Irlanda, os recursos foram usados para resgatar dois bancos. Já na Espanha, quase 90% das reservas têm sido usadas, segundo Maduell, para comprar títulos emitidos pelo próprio país.

Para o diretor da EPGE/FGV Rubens Penha Cysne, o FSB não está exercendo um papel de fundo soberano:

- O fundo tem sido usado como estabilizador do superávit. É um fato controverso, mas não é exatamente ruim.

Na operação feita em dezembro, R$ 8,84 bilhões entraram nos cofres públicos por meio da compra, pelo BNDES, de ações da Petrobras que estavam com o FSB. Os demais R$ 3,56 bilhões vieram de operações em mercado realizadas pelo Banco do Brasil, gestor do Fundo Fiscal de Investimento e Estabilização (FFIE), onde ficam depositados os recursos do FSB.

- Nós baixamos uma parte do valor (do FSB), que vai para o superávit primário. Tem, sim, um resgate para o primário de R$ 12,4 bilhões. Assim como ele foi antes uma despesa, agora volta como uma receita - disse Augustin.

Cingapura é exemplo

Professor da Universidade de Bristol, na Inglaterra, e estudioso de fundos soberanos, Adam Dixon afirma que esses recursos podem ser usados para vários propósitos, mas que é importante que o mandato de um fundo soberano seja claro e focado em um objetivo específico:

- A grande questão é o que o Brasil quer fazer com seu fundo soberano. No momento, parece que o fundo é simplesmente uma conta do balanço do governo e não há um gerente que possa executar um mandato de investimentos nos mercados estrangeiro e doméstico.

Segundo Dixon, o FSB poderia, por exemplo, ter estratégia semelhante aos fundos de Cingapura e França, transformando-se em um investidor estratégico na indústria brasileira.