Título: Empresas assumem projetos de educação para suprir demanda
Autor: Balmant, Ocimara; Nascimento, Cristiane
Fonte: O Globo, 22/10/2012, Desafios Brasileiros, p. 11

Investimento: Maioria das companhias que atuam no chamado terceiro setor destina recursos a projetos educacionais próprios ou em parcerias. Parcela para ensino médio e superior vem crescendo.

Sem educação não há desenvolvimento econômico. Cientes dessa realidade e de indicadores que ainda retratam o Brasil como um país com alto índice de analfabetos funcionais, crianças sem acesso à escola e jovens que abandonam os estudos ainda na adolescência, os empresários se engajaram na causa educacional. Dados do Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (Gife), rede que congrega as maiores empresas que investem em projetos com finalidade pública no Brasil - conhecido como terceiro setor - indicam que 83% de seus associados destinam recursos à educação, sendo esta a área que concentra o maior número de investidores sociais.

- A primazia do investimento em educação é antiga, mas os investimentos têm crescido ano a ano porque os empresários sabem que o maior gargalo para manter o ritmo econômico são a oferta e a qualidade dos recursos humanos. E as empresas sabem que o cidadão brasileiro é pouco ou mal educado - afirma o secretário-geral do Gife, Fernando Rossetti.

Por isso, apesar de o investimento no ensino fundamental (destinado a crianças de 7 a 14 anos) ainda ser o mais representativo, têm crescido os repasses ao ensino médio e até ao superior.

foco em áreas mais carentes

O carro-chefe da Fundação Estudar, por exemplo, é seu programa de bolsas, para jovens universitários e mestrandos. A instituição oferece cerca de 30 bolsas em universidades do exterior a cada ano e geralmente tem de lidar com seis, sete mil inscritos.

- Buscamos apoiar pessoas que tenham um perfil de líder, e que mostrem o tão almejado brilho nos olhos - diz Renata Moraes, gerente de Desenvolvimento Institucional da Estudar, destacando que, por isso, as bolsas não obedecem a critério socioeconômico. - Pode ser tanto um filho de um CEO quanto o de um carpinteiro.

Nos trabalhos direcionados à Educação Básica, porém, grande parte das fundações e institutos alia-se às próprias redes de ensino:

- Em vez de desenvolver um projeto marginal, com contribuições periféricas, faz-se um trabalho que contribui efetivamente, inclusive nas áreas onde há mais carência - diz Rossetti.

É o que faz o Instituto Natura. A instituição enxergou na ampliação do ensino fundamental de oito para nove anos o seu espaço de atuação: trabalhar com as crianças de 6 anos, que, com a mudança do sistema, entram um ano mais cedo no sistema. Como tratá-las pedagogicamente como se tivessem um ano a mais, com material formal de alfabetização não é o indicado pelo Ministério da Educação (MEC), o instituto criou, em 2009, o Projeto Trilhas, com material lúdico de apoio à leitura. Hoje, 140 mil professores do primeiro ano do fundamental da rede pública estão recebendo a formação para a uso dos kits, que contêm literatura infantil.