Título: Advogado de ex-chefe da Casa Civil vai contestar voto do relator
Autor: Éboli, Evandro
Fonte: O Globo, 04/10/2012, País, p. 6

Lima entregará novo memorial aos ministros; defesa de Genoino está confiante

O advogado de José Dirceu, José Luis Oliveira Lima, deixou ontem o prédio do Supremo Tribunal Federal (STF) reafirmando que seu cliente é inocente e que vai apresentar aos ministros um novo memorial com argumentos para tentar contestar o voto do relator Joaquim Barbosa, que pediu a condenação do ex-ministro. Evitando dar muitas declarações, já que o revisor Ricardo Lewandowski ainda lê hoje seu voto sobre Dirceu e ainda restam os outros oito ministros, Oliveira Lima afirmou que o único desfecho para Dirceu é a absolvição:

- Em respeito ao relator, revisor e aos outros ministros, só vou me pronunciar no fim do julgamento de meu cliente. Respeito a posição do relator, mas reafirmo que ficou comprovado nos autos que não há qualquer prova na ação penal 470 que incrimine José Dirceu. Só há a possibilidade de um desfecho: a improcedência das acusações.

Com outro sentimento e declaração distinta, Luiz Fernando Pacheco, advogado do ex-presidente do PT José Genoino, deixou o tribunal satisfeito e dizendo que estava feliz. O petista teve a condenação recomendada pelo relator, mas o revisor, Ricardo Lewandowski, defendeu sua absolvição pelo crime de corrupção ativa. Pacheco fez uma espécie de desabafo e disse acreditar que vai se fazer Justiça a Genoino:

- O revisor deu um voto profundo, estudado, jurídico e justo. Demonstrou que não há provas contra Genoino. Um voto contrário ao do relator, um voto pobre, que não se aprofundou. O Supremo Tribunal Federal começa a fazer Justiça a Genoino, que teve seu nome arrastado para a lama por Roberto Jefferson. Mas ele sairá limpo com sua história intacta.

"Hoje está duro"

Leonardo Yarachevsky, que atua na defesa de Simone Vasconcelos, ex-diretora da SMP&B, agência de Marcos Valério, atacou o relator. Apesar de Simone ter sido condenada tanto por Lewandowsky quanto por Barbosa, o advogado poupou o revisor. Fez até elogios a ele. Disse que sua cliente não tem o mesmo peso de outros réus, e já fala em trabalhar para que sua condenação seja a menor possível.

- É preciso sair em defesa do revisor. Só porque ele absolve, às vezes, e nem foi o caso da Simone, é tachado disso e daquilo. É vítima de preconceito. O ministro Lewandowski precisa ser elogiado por sua postura, por considerar a defesa nos seus votos. Bem diferente do relator. No mais, lamento a decisão sobre a Simone, mostrei que ela cumpria ordens, mas meus argumentos não foram considerados. Em eventual pena, vou trabalhar para que seja considerado culpa de menor importância.

Castelar Guimarães, advogado de Cristiano Paz, publicitário que era sócio de Marcos Valério e que teve condenação pedida ontem por revisor e relator, lamentou o resultado:

- Não foi o que esperava. Não foi surpresa o voto do relator, mas tinha outra expectativa com o revisor. Cristiano está sendo condenado só pelo fato de ser sócio de Marcos Valério.

Durante a sessão, advogados demonstravam desânimo e pessimismo com o voto de Joaquim Barbosa. Arnaldo Malheiros, advogado do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, no intervalo da sessão, quando o relator dedicava-se ainda a leitura da parte sobre Dirceu, foi abordado por jornalistas, que comentaram o fato de Delúbio ter sido pouco citado até aquele momento:

- Você achou pouco?! Para mim foi suficiente - disse Malheiros.

No fim, com a decisão de Joaquim Barbosa e de Ricardo Lewandowski de condenar Delúbio por corrupção, Malheiros evitou dar entrevistas

- Não tenho que falar nada. Quem tem que falar são eles - disse, referindo-se aos ministros.

Yarachevsky deixou por um momento a sessão e foi jogar uma água no rosto.

- Hoje está duro - comentou, referindo-se ao teor do voto de Joaquim Barbosa.

Quando o relator anunciou a absolvição do ex-ministro Anderson Adauto, seu advogado, Roberto Garcia Lopes Pagliuso, recebeu os parabéns de todos os advogados no plenário.