Título: Acordo deve barrar apuração sobre emendas
Autor: Pereira, Paulo Celso
Fonte: O Globo, 18/09/2012, País, p. 8

Conselho de Ética decide hoje futuro de parlamentares

Paulo Celso Pereira

BRASÍLIA O Conselho de Ética da Câmara se reunirá hoje para selar o destino da investigação sobre o esquema de compra de emendas parlamentares na Casa. O clima entre os poucos integrantes favoráveis à apuração é de velório. Mesmo Ricardo Izar Júnior (PSD-SP), que apresentou o voto pedindo a abertura de investigação, já avalia que a medida dificilmente será aprovada. A denúncia, feita pelo GLOBO em junho, envolve os deputados João Carlos Bacelar (PR-BA), Marcos Medrado (PDT-BA) e Geraldo Simões (PT-BA). Há suspeitas de um acordo entre os partidos dos deputados envolvidos para impedir a apuração do caso.

- A gente não está querendo matar ninguém. Aqui não é um tribunal de exceção. Só temos que apurar os fatos. Mas, se a gente nem abrir a investigação, não ouvir as partes envolvidas, isso nunca será apurado - explicou Izar Júnior.

acordo envolveria mensalão

Outros integrantes da comissão justificam, reservadamente, que a proteção aos três deputados faz parte de um acordão envolvendo todos os partidos implicados no mensalão. Segundo eles, como a Câmara pode ser obrigada a votar nos próximos meses pedidos de cassação de caciques de PT, PP e PR - leia-se João Paulo Cunha, Pedro Henry e Valdemar da Costa Neto, respectivamente, réus no julgamento do mensalão -, o arquivamento poderia ser moeda de troca. As suspeitas do acordão aumentaram desde que o petista Sibá Machado (AC) entregou seu relatório sobre Bacelar pedindo que a investigação sequer seja aberta.

Em meados de junho, O GLOBO publicou uma série de reportagens revelando a existência de um balcão de emendas no Congresso. A ex-mulher de Bacelar, Isabela Suarez - filha e braço-direito do empreiteiro Carlos Suarez -, afirmou que o deputado comprava emendas de vários colegas. Isabela fez a revelação à irmã do deputado, Lílian Bacelar, que trava com ele uma disputa judicial.

- Desse cara do PT, com certeza ele (Bacelar) compra emenda. O nome dele é Geraldo alguma coisa. Federal da Bahia. Se procurar, na hora você vai achar: Geraldo. Com certeza, com certeza. Eles operavam com o filho dele - disse a empresária durante a conversa. O único deputado do PT da Bahia com esse prenome é Geraldo Simões.

O nome de Simões figurava também, com o de Medrado, em uma tabela que Bacelar usava para acompanhar o andamento das emendas parlamentares. No dia seguinte à revelação do caso, Medrado admitiu ao GLOBO ter negociado a emenda com Bacelar, mas alegou que a entregou em troca do apoio político de um prefeito do interior baiano.

Apesar das denúncias, Sibá Machado, que é correligionário de Simões, pediu em seu relatório que o processo não seja aberto. Ricardo Izar, responsável pela análise do caso de Medrado, discordou e solicitou o aprofundamento do caso. O PSDB pediu vista e por isso o caso voltará à pauta hoje.

A última vez em que o Conselho de Ética da Câmara puniu um deputado foi em junho do ano passado, quando cassou o mandato de Jaqueline Roriz (PMN-DF), acusada de ter participado do chamado mensalão do DEM no DF. Mas, depois, no plenário, ela foi absolvida pelos companheiros, com folga de mais de cem votos.