Título: Arroz e feijão eternos
Autor: Grandelle, Renato
Fonte: O Globo, 05/09/2012, Ciência, p. 30

Brasil envia amostras de sementes a banco global de recursos genéticos da Noruega

Garantindo o futuro

Centenas de sementes de variedades brasileiras de arroz, feijão e milho serão armazenadas em um depósito norueguês permanentemente congelado, cuja temperatura é de 18 graus Celsius negativos. Trata-se do local mais seguro do planeta dedicado a fazer provisões contra catástrofes, como guerras, bombas e terremotos. O governo federal já era pressionado a contribuir para este banco há quatro anos, desde a assinatura de um acordo entre a Embrapa e o Ministério de Agricultura e Alimentação da Noruega. A primeira remessa de amostras nacionais será enviada ainda esta semana.

O Banco Global de Sementes de Svalbard, como a estrutura foi batizada, não esperou por Brasília ou pela colaboração de qualquer outro país. Seu primeiro movimento após a inauguração, em 2008, foi pedir amostras dos 15 Grupos Consultivos em Pesquisa Agrícola Internacional dispersos pelo planeta. Mantidos por 64 governos, além de centenas de instituições de pesquisa, ONGs e empresas do setor privado, estes consórcios já se preocupavam com o futuro da segurança alimentar. Svalbard, no entanto, aprofundou o conceito.

- A comissão ligada a recursos genéticos da FAO (a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) resolveu criar um banco de recursos genéticos próximo a um polo, que resistisse a intempéries climáticas e que pudesse receber duplicatas de amostras do mundo inteiro. Daí surgiu o centro norueguês - explica Marília Burle, supervisora dos bancos de germoplasma da Embrapa.

Brasileiras são mais resistentes

Por ter recorrido a estes consórcios internacionais, o centro norueguês acumulou centenas de sementes brasileiras antes mesmo da primeira colaboração oficial do país.

- Os pesquisadores já tinham coleções de diversas hortaliças - lembra Marília. - Começaremos mandando arroz, feijão e milho porque são culturas de grande importância agrícola e social, com programas de recursos genéticos já avançados em outras unidades da Embrapa. Fariam mais, enfim, do que apenas ocupar espaço.

As coleções, segundo a supervisora, são "pequenas, mas estratégicas". Serão enviadas esta semana 264 amostras de sementes representativas de espécies de milho e 541, de arroz. A próxima cultura agrícola a ser encaminhada ao banco norueguês será o feijão, o que ocorrerá ainda este ano. A Embrapa Arroz e Feijão, com sede em Goiás, finaliza a amostragem.

Apesar de nenhuma das três culturas ser originalmente brasileira, elas atraíram os noruegueses por terem um plantio bem-sucedido no país há séculos. Neste período, adquiriram rusticidade e adaptabilidade que lhes deram características únicas, tornando-as valiosas.

O governo federal mantém, em Brasília, um banco de sementes com mais de 110 mil amostras de 670 espécies de aplicação agrícola, armazenadas a 20 graus Celsius negativos. A estrutura recebe amostras desenvolvidas e selecionadas por diversas instituições do país, considerando a variabilidade genética e a disposição geográfica das plantas. O centro brasileiro de pesquisas, porém, não tem estrutura comparável à do bunker norueguês. A baixa temperatura, fundamental para preservar a coleção botânica, depende muito mais de energia elétrica no Brasil do que na gélida Svalbard.