Título: Comércio de arte suspeito na Câmara
Autor: Amado, Guilherme
Fonte: O Globo, 20/07/2012, O País, p. 4

Chefe de gabinete de Marco Maia, que exibia obras de sua própria coleção na Casa, é exonerado

BRASÍLIA . Há dois anos, a Câmara dos Deputados conquistou prestígio na área cultural, devido às exposições de artistas plásticos que vêm organizando. A cada mostra, no entanto, não é só o Legislativo que ganha. Dois servidores do alto escalão vêm aproveitando para valorizar obras de suas próprias coleções. Até poucos dias chefe de gabinete do presidente da Câmara, Marco Maia (PT-SP), José Umberto de Almeida é considerado a grande cabeça por trás das exposições na Casa. Colecionador, é servidor desde 1983. Na semana passada, foi afastado do cargo, mas mantido como assessor de Maia.

O diretor legislativo da Câmara, Afrísio Vieira Lima Filho, irmão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, também costuma exibir suas obras no gabinete da presidência da Câmara, que, nos fins de semana, se transforma em Gabinete de Arte, com exposições temporárias. Embora não seja função de seu cargo anterior nem do atual, é José Umberto que escolhe quem vai expor nesse e em outros espaços da Câmara.

Além de organizar e pagar a exposição, a Câmara produz bons catálogos, com as obras e a biografia do pintor. No mercado de arte, sabe-se que a catalogação e a visibilidade são formas de se valorizar a obra. Segundo o dono de antiquário Celso Albano, a catalogação valoriza um quadro, porque reforça sua autenticidade. Esse aumento no preço é maior se a obra nunca participou de mostra ou foi catalogada.

Umberto e Afrísio negaram que tenham colocado obras deles nas exposições para valorizá-las. Afrísio disse que gosta de mostrar sua coleção.

Outro ponto polêmico na atuação de Umberto é a comercialização de obras na Câmara. Até tabelas de preço já foram fixadas nas exposições. A pintora Marysia Portinari, que expôs este ano na Câmara, confirmou uma venda para o deputado Ângelo Vanhoni (PT-PR), por meio de Umberto.

Esse tipo de comércio, além de proibido pela Câmara, tem incomodado o mercado de arte, por passar longe do pagamento de impostos. Procurado, Umberto disse que a prática não é recorrente. Ele também negou que tenha intermediado a venda: só "colocou um em contato com o outro".