Título: Agnelo chama convocação de absoluta injustiça
Autor: Bruno, Cássio; Maltchik, Roberto
Fonte: O Globo, 31/05/2012, O País, p. 9

BRASÍLIA e RIO. O governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), afirmou ontem que sua convocação para a CPI do Cachoeira é uma "absoluta injustiça", mas que respeita a decisão da comissão. Ele disse ainda que o grupo de Carlinhos Cachoeira tentou, sim, derrubá-lo.

- Respeito a decisão da CPI, mas a considero uma absoluta injustiça, pois esse grupo criminoso não conseguiu fazer negócios no Distrito Federal. As gravações da PF comprovam que esse grupo tentou me derrubar porque eu era um empecilho à sua atuação no Distrito Federal - afirmou Agnelo.

Também convocado, o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), informou que não se surpreendeu, uma vez que ele mesmo se colocou à disposição da comissão para prestar esclarecimentos sobre seus contatos com pessoas ligadas ao grupo de Cachoeira. De acordo com o governador, a decisão representa uma boa oportunidade para esclarecer os fatos.

No Rio, antes da decisão dos parlamentares de não convocá-lo, o governador Sérgio Cabral (PMDB) declarou que não havia razão para chamá-lo a prestar esclarecimentos sobre a relação dele com Fernando Cavendish e a construtora Delta, investigada por corrupção. Foi a primeira vez em que ele falou do caso.

- Não vejo razão. Os senadores e os deputados têm sido responsáveis, porque você não pode transformar uma CPI em palanque político em ano eleitoral.

Cabral, no entanto, irritou-se quando foi perguntado se temia a quebra de sigilo da Delta em todo o país. A construtora, que teve como presidente Fernando Cavendish, amigo de Cabral, é investigada pela comissão. A Delta transferiu R$ 39 milhões a empresas fantasmas ligadas ao grupo do contraventor Carlinhos Cachoeira. Desde 2007, a Delta recebeu, por meio de contratos, cerca de R$ 1,5 bilhão do governo Cabral para prestação de serviços.

- Imagina! Por que eu temeria? Acho até um desrespeito da sua parte perguntar isso. Uma coisa é a relação pessoal que eu tenho com empresários ou não empresários. Outra coisa é a impessoalidade das decisões administrativas. Essas ilações são de uma irresponsabilidade completa. É um desrespeito completo com a minha pessoa, com a administração que a gente vem fazendo e com os meus secretários de Estado - afirmou Cabral após a inauguração de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), no Complexo do Alemão.

Cabral observou que o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), tinha as razões dele para se oferecer a depor na CPI:

- O governador de Goiás tem as razões dele e respeito. Há 250 mil gravações da Polícia Federal, e o meu nome não aparece em nada. Não é o fato de uma amizade que me levaria a ir a qualquer lugar. Mas eu respeito o governador. Tenho certeza de que ele terá oportunidade de se defender.

Cabral ressaltou que nunca interferiu nas escolhas de empresas ou de decisões de seus secretários. Ele afirmou que os seus assessores têm autonomia para tomar decisões e escolher os subordinados, além de fazer um governo com transparência.

No discurso, sem citar nomes, Cabral atacou o ex-governador Anthony Garotinho e a ex-governadora Rosinha Garotinho, mulher do hoje deputado federal, dizendo que faltou credibilidade ao governo de ambos. Garotinho foi o responsável pela divulgação, em 27 de abril, das fotos de Cabral e de seus secretários, em Paris, em passeios e jantares em restaurantes de luxo, em 2009.