Título: Brasil e Cuba trataram de direitos humanos
Autor: Damé, Luiza; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 20/02/2012, O Mundo, p. 19

Diálogo entre ministros ocorreu antes da visita de Dilma, evitando manifestação pessoal da presidente

BRASÍLIA. Com cautela e discrição diplomática, o governo brasileiro tratou do delicado tema dos direitos humanos com as autoridades cubanas. Para evitar que uma manifestação pessoal da presidente Dilma Rousseff pudesse causar ruídos nas relações com aquele país, a missão foi dada ao ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota. Segundo o assessor especial para assuntos internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, o tema foi objeto de conversas entre o chanceler brasileiro e seu colega cubano, Bruno Rodriguez. Os dois se encontraram dias antes de a presidente Dilma Rousseff visitar o país, no último dia 31 de janeiro. Para Garcia, que não quis detalhar como a questão foi tratada entre os dois ministros, Dilma não abordou as restrições de liberdade praticadas pelo governo de Raúl Castro quando esteve com ele porque essa estratégia não é eficaz politicamente. Em sua avaliação, se Dilma fizesse discursos sobre a situação, ganharia elogios internacionais e popularidade, mas na prática não melhoraria a situação dos dissidentes do regime cubano e ainda abalaria a relação entre os dois países. — Não é que não nos incomode que haja restrições de direitos humanos, até porque temos gravíssimos problemas não resolvidos. Mas nesta área temos que ser discretos, modestos. Tem coisa que se resolve com discrição. Grandes discursos são absolutamente ineficazes. Piora a situação dos direitos humanos no país e corta o diálogo entre os dois países — avaliou o assessor. Na ocasião da visita de Dilma a Cuba, a primeira de seu governo, havia uma grande expectativa por parte dos dissidentes do regime dos irmãos Castro de que a sucessora de Lula fizesse uma cobrança pública em defesa deles. Dias antes, mais um rebelde havia morrido após 48 dias de greve de fome em uma prisão cubana. Durante sua passagem por lá, Dilma só mencionou a questão dos direitos humanos quando perguntada por jornalistas. Mesmo assim, saiu pela tangente, falou que todos os países enfrentam problemas nessa área, inclusive o Brasil, e criticou a prisão de Guantánamo, para onde os americanos mandam condenados por terrorismo.

Críticas a Guantánamo não causaram constrangimento

Garcia disse ainda que Dilma não está preocupada com um possível constrangimento que possa passar na visita aos Estados Unidos por ter mencionado Guantánamo como um dos problemas de direitos humanos. Segundo o assessor da Presidência, o tema já foi superado e sequer será mencionado. — Conversei com um diplomata americano e ele disse que as declarações não causaram nenhum constrangimento — garantiu. Embora não seja uma das prioridades do encontro que Dilma terá com o presidente americano Barack Obama em Washington, no início de abril, a questão cubana deverá aparecer nas conversas. O governo brasileiro defende que os Estados Unidos encerrem o embargo comercial imposto à ilha há 50 anos. Para o governo petista, o bloqueio econômico não tem mais razão de ser e representa um dos últimos resquícios ainda vigentes da Guerra Fria.