Título: Para a Fifa, inimigo a menos
Autor: Lima, Maria; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/10/2011, O País, p. 4

Relação de Orlando com a entidade se tornou insustentável

A queda de Orlando Silva era aguardada com ansiedade tanto pela Fifa quanto pelo Comitê Organizador Local da Copa do Mundo de 2014 (COL-2014). O relacionamento entre as duas entidades e o ex-ministro do Esporte se deteriorou nos últimos meses a tal ponto que o secretário-geral da Fifa, Jérôme Valcke, não queria mais negociar com ele.

O dirigente francês considerava Orlando o principal empecilho para fazer valer os pontos que haviam sido acertados por ele em fevereiro passado com o governo, durante reuniões em Brasília. Valcke acreditava que o ex-ministro foi o responsável pelas mudanças que surpreenderam a Fifa no texto da Lei Geral da Copa e que provocaram uma crise com o governo brasileiro.

O presidente da Fifa, Joseph Blatter, chegou a enviar, na segunda quinzena de setembro, uma carta para a presidente Dilma Rousseff, comunicando que a entidade poderia exercer o direito de executar a cláusula 7.7 do Host Agreement (Contrato para Sediar) da Copa de 2014, caso o governo não respeitasse os termos acordados em 31 de outubro de 2007. O A cláusula 7.7 estabelece o dia 1º de junho de 2012 - exatamente 2 anos e 11 dias antes da partida de abertura do Mundial de 2014 - como prazo final para a Fifa rescindir o contrato e tirar a Copa do Brasil, sem pagamento de multa. Diz o texto da 7.7 que "a rescisão será aplicada caso as leis e regulamentos necessários para a organização da Copa do Mundo de 2014 não tenham sido aprovados, ou caso as autoridades competentes não estejam cumprindo as garantias governamentais exigidas". As garantias e responsabilidades exigidas pela Fifa também fazem parte do Acordo de Candidatura, entregue em 31 de julho de 2007, pelo presidente Lula, três meses antes de o país ter sido confirmado como sede do Mundial.

A Lei Geral da Copa, enviada ao Congresso no dia 19 de setembro pela presidente Dilma Rousseff, continha itens como ingressos, credenciamento, proteção ao marketing de emboscada, gratuidades e até transmissão de TV que foram editados em desacordo com o que foi discutido e acertado em fevereiro deste ano, em Brasília, durante a reunião de Valcke com Orlando e técnicos do governo. Além disso, a infraestrutura dos aeroportos e os projetos de mobilidade urbana também são considerados incipientes pela Fifa.