Título: Agência rebaixa nota de Portugal para junk
Autor: Rosa, Bruno
Fonte: O Globo, 06/07/2011, Economia, p. 23

Moody"s corta em 4 níveis classificação do país, citando risco de novo pedido de socorro. Bolsa de SP cai 1,33%

RIO, NOVA YORK e LISBOA. Apesar das preocupações com a Grécia, o baque nos mercados financeiros ontem veio de Portugal: a nota de crédito soberano do país foi rebaixada em quatro níveis pela agência de classificação de risco Moody"s. O rating passou de "Baa1", ainda grau de investimento, para "Ba2" - grau especulativo, ou junk. A agência colocou ainda o país em perspectiva negativa, ou seja sujeito a outro rebaixamento, devido ao risco crescente de Portugal precisar de uma segunda rodada de ajuda financeira. A notícia só foi divulgada após o fechamento dos mercados europeus. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), que abriu no vermelho, acentuou as perdas após o rebaixamento, fechando na mínima do dia, em queda de 1,33%, aos 63.038 pontos.

Em Nova York, Dow Jones e S&P recuaram 0,10% e 0,13%, respectivamente, enquanto o Nasdaq avançou 0,35%. A moeda única europeia recuou 0,8% frente ao dólar, para US$1,4417. Ela já vinha perdendo terreno devido à queda de 1,1% nas vendas do varejo da zona do euro. No Brasil, o dólar avançou 0,71%, a R$1,564.

Para governo português, Moody"s ignorou esforços

Segundo Anthony Thomas, vice-presidente da Moody"s, Portugal não será capaz de cumprir as metas de redução do déficit e estabilização de sua dívida, de 160,47 bilhões, conforme acordado com União Europeia (UE) e Fundo Monetário Internacional (FMI) quando da concessão do socorro de 78 bilhões, em maio.

- Os planos do governo português para conter seus gastos podem ser difíceis de implementar na íntegra entre as empresas estatais, os governos regionais e locais, além do setor de saúde. O crescimento econômico pode ser mais fraco que o esperado, o que comprometeria as metas do governo de redução do déficit. Como existe uma possibilidade de Portugal necessitar de apoio do setor bancário, haverá uma dívida adicional a seu balanço - afirmou Thomas.

Ele citou ainda a possibilidade de Portugal não conseguir empréstimos a taxas sustentáveis no mercado de capitais no segundo semestre de 2013, e até por mais tempo.

Portugal é o segundo país da zona do euro classificado pela Moody"s como especulativo, depois da Grécia - que hoje volta aos holofotes por causa da reunião dos grandes bancos da zona do euro para discutir a reestruturação da dívida do país.

O governo português criticou a decisão da Moody"s. O ministro de Finanças, Vítor Gaspar, disse que a agência não levou em conta o consenso político entre os três partidos (PS, PSD e CDS) para aplicar as medidas de austeridade. Ele ressaltou os esforços do governo para reduzir os gastos públicos e citou ainda o imposto extraordinário sobre o décimo terceiro este ano, que deve render ao Estado 800 milhões.

Decisão aumentará pressão na Europa, diz analista

O rebaixamento foi maior que o esperado por analistas. Carlos Nunes, estrategista de Renda Variável do HSBC, lembrou que, quando um país é rebaixado a junk, muitos fundos de investimentos e bancos não podem ter recursos alocados em títulos do país. Com isso, muitas instituições terão de vender esses papéis, o que irá aumentar o estresse no mercado financeiro.

- Esse rebaixamento cria ainda mais pressão na Europa. Na próxima quinta-feira, o Banco Central Europeu irá decidir sua nova taxa de juros (hoje em 1,5%). A decisão será importante para saber como a política na zona do euro será direcionada, já que há alguns países em crise e recessão e outros com pressão inflacionária. É preciso uma resposta rápida e ordenada - disse Nunes.

No cenário interno, destacaram-se as ações da TAM, cujos papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) encerraram na maior alta do dia: 4,56%. Segundo Hersz Ferman, gestor de renda variável da Yield Capital, isso foi reflexo da alta da LAN, com a expectativa de que as autoridades chilenas concordem com a fusão das duas aéreas.

(*) Com agências internacionais