Título: Conhecimento também sobre bombas caseiras
Autor: Duarte, Alessandra; Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 24/04/2011, O País, p. 5

Expertise obtida com empresas de construção e manuais da ALN

Nos anos 70, o Goesp foi gradativamente se tornando o grupo especialista em bombas da Secretaria de Segurança, a ponto de a unidade ter sido a precursora do atual Esquadrão Anti-Bombas. A expertise foi adquirida, por exemplo, com idas a empresas de construção civil e consultas a manuais de grupos ditos subversivos, como a ALN.

¿ Dentro do Goesp, éramos três a conhecer bem a área de explosivos: eu, Maulaz e Teobaldo ¿ diz Amêndola, referindo-se a Carlos Alberto Maulaz, que mais tarde se tornaria um dos nomes de referência do Esquadrão Anti-Bombas, e Teobaldo Lisboa, ex-DOI, conhecido como um dos principais torturadores da repressão. ¿ Li manuais do Exército, mas o Exército, na época, só conhecia explosivos militares mesmo, não os caseiros. Então, fomos conhecer os explosivos da indústria civil. O Teobaldo foi comigo em empresa de construção. E estudamos nos manuais da ALN, que havia no gabinete do secretário.

O Goesp, mais tarde Serviço de Recursos Especiais e em seguida DGIE, não era subordinado às Forças Armadas, diz Amêndola, mas apoiava suas missões. Uma delas foi a prisão de César Benjamin, na época um dos mais ativos integrantes do MR-8 de Carlos Lamarca:

¿ Fomos colocados num Hércules sem saber para onde estávamos indo. Envelope fechado na mão do piloto. Descemos na Bahia, e a missão era: capturar um rapaz que ia passar por uma praça de Salvador, que estava armado e levando dinheiro para o Lamarca. Era o César Benjamin.

Só na primeira metade dos anos 80, o DGIE foi responsável por investigar pelo menos 13 episódios de atentado a bomba. Em julho de 80, o órgão chegou a abrir uma sindicância para apurar apenas os atentados em bancas de jornal.

Em 27 de agosto daquele ano, quando uma carta-bomba explodiu na OAB e matou a secretária Lyda Monteiro, foi uma turma especializada do DGIE que chegou para inspecionar o local. Naquele mesmo dia, o órgão estava, ainda, na investigação das bombas que explodiram na Câmara de Vereadores e no jornal ¿Tribuna Operária¿. O DGIE investigou, ainda, a desativação de uma bomba-relógio no escritório do advogado Sobral Pinto; a carta-bomba que quase explodiu na Sunab; e a bomba-relógio encontrada no Hotel Everest no dia em que lá estava hospedado Leonel Brizola.

Além do DGIE, a Delegacia de Polícia Política e Social (DPPS) ¿ órgão ao qual estavam ligados outros nomes da agenda do sargento ¿ também apurava os atentados a bomba da época, como, por exemplo, a explosão de uma bomba numa igreja em Nova Iguaçu em 1979, assumida pela Vanguarda de Caça aos Comunistas. Na época, a DPPS chegou a afirmar que ¿os atentados contra a OAB, a Câmara, a Sunab e as bancas de jornais estão sendo coordenados pela Vanguarda¿.