Título: IBGE: sensação de insegurança atinge 47,2%
Autor: Tinoco, Dandara
Fonte: O Globo, 16/12/2010, O País, p. 17

Mesmo em casa, 21,4% não se sentem seguros. Em 2009, 11,9 milhões de pessoas foram roubadas ou furtadas

A sensação de insegurança atinge quase metade da população nas cidades brasileiras. Cerca de 76,8 milhões de pessoas, 47,2% da população, não se sentem seguras em suas cidades. Nada menos que 21,4% se sentem inseguros mesmo dentro de casa. Em relação ao bairro onde mora, o percentual é de 32,9%. Os dados são da pesquisa "Características da Vitimização e do Acesso à Justiça no Brasil", suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009 (Pnad) divulgado ontem pelo IBGE.

As maiores proporções de insegurança são no Pará (63,1%) e no Rio de Janeiro (57,7%). A sensação de segurança é menor nas áreas urbanas e nas regiões metropolitanas. O percentual de domicílios que possuem dispositivos de segurança (como grades e câmeras) é de 59,4%.

- Nós temos no Brasil uma quantidade muito alta de pessoas que se sentem inseguras. É um fenômeno que observamos em todo o país e que deve ser tratado com bastante atenção - disse o presidente do IBGE, Eduardo Pereira Nunes.

A pesquisa aponta também que cerca de 11,9 milhões (7,3%) de pessoas com 10 anos ou mais de idade foram roubadas ou furtadas entre setembro de 2008 e de 2009. Em 1988, esse percentual era de 5,4%. Já o índice de tentativas de furtos e roubos mais que triplicou em 21 anos, passando de 1,6% para 5,4%.

Entre as pessoas roubadas, o percentual das que não procuraram a polícia foi de 51,6%. Delas, 36,4% disseram que não fizeram a notificação por não acreditarem na corporação.

O antropólogo Gilberto Velho diz que o medo da população é reflexo da violência que se disseminou pelo país nos últimos vinte anos:

- Os crimes ocorrem não só nas grandes cidades, mas também em cidades pequenas e médias. A sensação de insegurança é muito grande. No Rio, por exemplo, não há uma área em que você possa dizer que está seguro. Operações como a do Complexo do Alemão podem ter aumentado um pouco a confiança, mas são apenas o início. É preciso política de longo prazo.

Ex-secretario Nacional de Segurança, José Vicente da Silva Filho defende o enrijecimento da legislação brasileira:

- Temos um problema seríssimo de impunidade que é o motor desse crimes. O Código de Processo Penal ainda é de 1941, e a Lei de Execução Penal cria oportunidades cada vez maiores para criminosos fugiram se aproveitando de benefícios.

O estudo aponta também dados sobre o acesso à Justiça. Entre 2004 e 2009, 9,4% da população estiveram envolvidos em algum conflito. Destes, 57,8% buscaram a Justiça. Do total, 50,8% não tiveram o conflito solucionado.