Título: Superávit do setor mineral ultrapassa o do Brasil
Autor: Nogueira, Danielle
Fonte: O Globo, 19/12/2010, Economia, p. 31

Com alta no preço do minério de ferro, saldo dobra para US$24 bi, superando o resultado da balança comercial pela 1ª vez

Pela primeira vez na História, o superávit da balança comercial do setor mineral vai superar o saldo da balança comercial brasileira. De um lado, o salto no preço do minério de ferro e a elevada demanda no mercado internacional pelo produto, especialmente pelos países emergentes, impulsionaram as vendas externas do minério ao longo de 2010, o que levará as exportações do setor a superar as importações em US$24,5 bilhões este ano, segundo projeções do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram) obtidas com exclusividade pelo GLOBO. A cifra é o dobro da de 2009.

Por outro lado, o real forte e o maior poder de compra do brasileiro fizeram as importações de uma vasta gama de produtos crescer mais de 40% em relação a 2009, segundo os últimos dados do Ministério de Desenvolvimento. Como as exportações brasileiras não acompanharam o ritmo, o saldo da balança comercial do país deverá ser reduzido para cerca de R$16 bilhões, nas previsões do Ibram, anulando boa parte do ganho do setor mineral.

O principal fator para o boom no superávit do setor mineral foram os recentes reajustes do preço do minério de ferro, que passaram a ser trimestrais desde abril - até então os aumentos eram anuais. O preço médio para o ano de 2010 do mercado spot (à vista) chinês, referência para os contratos das mineradoras, está em US$145 a tonelada, segundo o Ibram, um pulo de 81% sobre a cotação média de 2009 (US$80).

China responde por quase 50% das compras do minério

Com isso, os embarques ao exterior do minério, carro-chefe do setor e também das exportações totais brasileiras, alcançarão US$27 bilhões este ano, o dobro dos US$13,2 bilhões do ano passado, segundo o Ibram. Será a primeira vez que um único item da pauta de exportações do Brasil ultrapassará a marca de US$20 bilhões, frisa o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

Paulo Camillo Penna, presidente do Ibram, lembra que o volume de minério exportado também aumentou, embora em proporção bem menor que o preço. Serão 300 milhões de toneladas vendidas ao mercado internacional este ano, 12,7% mais que em 2009:

- A economia mundial se recuperou mais rápido que o imaginado, especialmente os países emergentes. Daí a maior demanda pelo minério de ferro. Como a oferta está apertada, o preço também acabou subindo acima do nível pré-crise.

Entre os principais compradores do minério brasileiro está a China, que este ano deve responder por 48% de nossas exportações, seguida pelo Japão (12,4%). Penna enfatiza, porém, que o peso do gigante asiático tende a cair com a recuperação dos países europeus. Em 2009, os chineses compraram 56,4% do minério brasileiro. A Alemanha, outro importante importador, deve ter sua fatia ampliada de 4,1% em 2009 para 6,8% este ano.

José Augusto de Castro, da AEB, lembra que esse descompasso entre o superávit da balança comercial do setor mineral e o da balança comercial brasileira só foi possível porque as importações brasileiras cresceram muito em 2009.

Valor da produção mineral será recorde: US$39 bi

Entre janeiro e a segunda semana de dezembro, elas somaram US$171,913 bilhões, 42,8% mais que em igual período de 2009. As exportações cresceram menos (31%), para US$188,269 bilhões. Com isso, o saldo acumulado já está em US$16,356 bilhões. E poderá atingir US$17,3 bilhões nas previsões da AEB.

- Houve forte aumento das importações de matérias-primas e bens de capital. É a indústria que, com o dólar fraco, prefere comprar insumos e equipamentos no exterior para atender a demanda crescente da população - avalia Castro.

O elevado preço do minério de ferro, bem como de outros minérios, também terá impacto sobre o valor da produção mineral brasileira, que este ano deverá bater o recorde de US$39 bilhões, segundo estimativa do Ibram. Até semana passada, o instituto estava trabalhando com a cifra de US$35 bilhões.

Com demanda e preços em alta, os investimentos não param de crescer. O Ibram calcula em US$62 bilhões os investimentos no setor no Brasil entre 2010 e 2014, superior ao nível pré-crise (US$57 bilhões para o período 2008-2012).