Título: A CUT não tem mais nada de autônoma
Autor: Menezes, Maiá; Damasceno, Natanael
Fonte: O Globo, 15/09/2010, O País, p. 14

Candidato do PSTU defende eleição de delegados pelas comunidades e descumprimento da Lei Fiscal

Fundador do PT e da CUT e pela oitava vez disputando uma eleição, o candidato do PSTU ao governo do estado, Cyro Garcia, defende o descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), a estatização das empresas de transportes e a descriminalização das drogas como forma de combater a violência no estado. Suplente do vereador Eliomar Coelho (PSTU), Cyro é funcionário licenciado do Banco do Brasil, professor universitário e sindicalista. Deixou o PT em 1992 e, em 1994, fundou o PSTU ¿ junto com uma das correntes mais à esquerda do PT, a Convergência Socialista. Hoje, Cyro Garcia faz duras críticas à relação entre movimento sindical e governo.

O GLOBO: É a oitava vez que o senhor se candidata. O que o mantém motivado a concorrer?

CYRO GARCIA: Para aqueles partidos que são eleitoreiros, deve ser muito cansativo, porque eles jogam tudo nas eleições.

Para o PSTU, não, porque não é eleitoreiro, nem tampouco eleitoral. O PSTU é um partido que se constrói cotidianamente, nas lutas dos trabalhadores, da juventude.

Para mim, a eleição é apenas um momento episódico. Nós militamos o tempo inteiro.

O GLOBO:Como vê a relação entre o sindicalismo e o PT?

CYRO GARCIA: No governo Lula, houve uma cooptação do movimento sindical. Hoje a CUT não tem mais nada de autônoma ou de independente. Ela é uma correia de transmissão dos interesses do governo na classe trabalhadora.

A cooptação passa pela participação em conselhos de gestão, como o conselho nacional de economia, e na liberação de verbas.

O GLOBO: Na Educação, o senhor prevê alocação de 10% do orçamento. Na Saúde, quer dobrar as verbas. Como fazer isso, com obrigações a cumprir, como a Lei de Responsabilidade Fiscal?

CYRO GARCIA: Um primeiro passo é romper com a Lei de Responsabilidade Fiscal, que na verdade é uma lei de irresponsabilidade social. Porque está voltada para atender aos interesses dos banqueiros, das grandes construtoras, das empreiteiras que prestam serviço ao governo.

Temos que parar de pagar a dívida pública, e os recursos precisam ser usados para saúde, educação, segurança.

O GLOBO:Como conseguir mudar a legislação, uma vez que o partido não tem bancada?

CYRO GARCIA: Queremos criar conselhos, para que a sociedade se mobilize para dar sustentação a essas propostas.

Porque, se formos nos apoiar exclusivamente na Assembleia Legislativa, não vão acontecer. Os vereadores votaram o Passe Livre com o bafo dos estudantes no cangote.

O GLOBO: O senhor defende a escolha de delegados por eleição das comunidades. Como evitar que milícias influam na escolha?

CYRO GARCIA: Isso não se realiza num estalar de dedos.

Nós defendemos, primeiro, a desmilitarização da PM. Achamos que devíamos ter uma polícia Civil unificada. Uma parte dela fardada, para fazer policiamento ostensivo, e outra parte dela voltada para a inteligência

O GLOBO: Mas a eleição de delegados é possível no modelo que a gente tem hoje?

CYRO GARCIA: Lamentavelmente com essa polícia, não.

Estamos falando em uma situação em que tenhamos feito uma limpeza nessa polícia.

O GLOBO: O senhor continuaria com as UPPs?

CYRO GARCIA: A política das UPPs é uma grande farsa. É uma questão pontual que pode resolver de maneira paliativa os problemas das comunidades onde elas estão instaladas, que são pouquíssimas. O que está havendo é a migração do crime dentro da própria cidade.

O GLOBO: Mas o policiamento ostensivo é parte do processo, não?

CYRO GARCIA: Claro que é necessário, mas é muito pouco.

E nós achamos que mais eficaz para tratar dessa questão do tráfico de drogas, que alimenta o tráfico de armas, é a questão da descriminalização das drogas.

Não estamos defendendo a liberação geral das drogas, mas a mudança da pauta da questão da área da segurança para a de saúde pública. E o que mata não é a overdose. O que mata são as balas perdidas e achadas.

O GLOBO: Nos Transportes, o senhor defendido a estatização das empresas...

CYRO GARCIA: É claro que quando a gente pensa em estatal o que a gente vê é corrupção, é apadrinhamento, é cumpadrismo, são indicações por interesses políticos para viabilizar alianças de governabilidade.

Mas estamos falando em estatização com o controle dos trabalhadores.

O GLOBO: Mas a estatização resolve o problema dos Transportes?

CYRO GARCIA: Uma outra questão é como um trabalhador desempregado pode pagar um transporte caríssimo? Nós defendemos uma redução dessas tarifas, de uma forma geral, que são absurdas. E isso é plenamente factível. Buenos Aires, por exemplo, você tem um Metrô com seis linhas e pagas R$ 0,55. Você pega um ônibus e paga R$ 0,55. Aqui você para R$ 2,80 num metro que te leva da Tijuca a Ipanema e de Ipanema até a Pavuna. Você paga R$ 2,35 num ônibus. Isso só mostra o tamanho da farra que é a margem de lucro desses empresários do transporte público. E uma forma de você estar isentando um trabalhador desempregado é dando passe livre no transporte.

O GLOBO: Mas, com o serviço estatizado, como o Estado terá meios de bancar isso tudo?

CYRO GARCIA: Achamos que tem que ser autossustentável.

Achamos que R$ 1 é uma tarifa que pode sustentar tudo isso.

O que tem que acabar é com a farra da margem de lucro dos empresários de transporte.

O GLOBO: O senhor planeja redistribuir a alíquota de ICMS?

CYRO GARCIA: O plano é onerar mais as grandes empresas e desonerar as empresas menores. As microempresas são geradoras de um grande número de empregos no nosso estado e muitas vezes ficam sufocadas porque é desigual, é injusta a incidência de carga tributária sobre uma microempresa e sobre uma grande empresa.