Título: Casca-grossa versão light
Autor: Moraes, Diego
Fonte: Correio Braziliense, 25/06/2009, Brasil, p. 19

Depois de chamar ruralistas de ¿vigaristas¿, ministro Carlos Minc vai ao Congresso, é atacado, mas evita embate

Minc não quis saber de confusão, limitou-se a defender a política do governo e usou apenas respostas técnicas

Após disparar críticas duras e frases de efeito contra ruralistas, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, tenta reatar os laços de diálogo no Congresso. Por um lado, quer evitar mais desgastes que possam comprometer sua permanência na pasta ¿ ameaçada há algumas semanas. Por outro, teme perder força na discussão de um projeto de lei apresentado na Câmara que permite a criação de códigos florestais em cada estado.

Mas ao que parece, a reconciliação será tarefa complicada. Em audiência na Comissão de Agricultura da Câmara ontem, o ministro foi bombardeado por parlamentares da bancada ruralista, que não parecem dispostos a engolir a seco as críticas contra o setor do agronegócio (1).

Os deputados o convocaram para ouvir explicações sobre a polêmica frase em que Minc chamou os grandes produtores de ¿vigaristas¿. O ministro evitou criar polêmica, rebateu eventuais alfinetadas com respostas técnicas e seguiu linha de defesa da política ambiental do governo.

Logo na chegada, ele já sabia o que estava por vir. ¿Sei que vão apertar o meu calo, mas tenho casca grossa¿, afirmou. Logo quando começou a falar, tratou de pedir desculpas formais aos parlamentares pelo ataque aos ruralistas, em evento com 4 mil agricultores em frente ao Congresso em 27 de maio. ¿Eu quero ir além do pedido de desculpas. Quero dizer que não penso aquilo e já demonstrei pelo número de vezes que já estive aqui para dialogar¿, disse o ministro.

O ataque mais duro partiu do líder do DEM na Câmara, Ronaldo Caiado (GO), um dos principais representantes da bancada ruralista. ¿O senhor disse que foram expressões indevidas. Agora, vossa excelência se sentiria confortável se eu argumentar que foram expressões indevidas se nós dissermos que defendemos a produção de arroz, milho, leite, carne e vossa excelência defende a produção de cocaína e maconha?¿, provocou o deputado.

O deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA) chegou a sugerir que o ministro pedisse demissão e disse que Minc envergonha o país. ¿O senhor não merece o cargo¿, disse o pedetista.

O deputado Moreira Mendes (PPS-RO) aproveitou o fato de Carlos Minc ter participado de uma marcha em defesa da maconha para também fazer uma provocação: ¿Eu trouxe um pouco de erva para você. Mas eu estou falando da erva-mate, a erva do bem. Escolhi a erva-mate pela simbologia e pela comparação com a outra erva daninha, que eu não estou defendendo¿.

Embora tenha moderado o tom durante a audiência, Carlos Minc aproveitou a entrevista coletiva para desabafar: ¿Usaram expressões 10 vezes mais indevidas contra mim e não ouvi desculpas¿. O ministro, porém, disse que o assunto está superado.

(1) O ESTOPIM

O embate entre Minc e ruralistas vem desde o ano passado, quando ele travou uma briga por meio da imprensa com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes. Depois disso, ao perceber que a bancada ruralista pode ter força no Congresso para alterar o Código Florestal, passou a defender com mais veemência os pequenos agricultores. A crítica, usando o termo ¿vigaristas¿, foi o estopim para expor a briga.

Personagem da notícia Coletes não são à prova de briga

Marcado tanto pelas frases de efeito quanto pelos coletes que usa, o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, 57 anos, é um dos mais eloquentes da Esplanada. Desde maio do ano passado, quando assumiu o cargo após o pedido de demissão de Marina Silva, mostrou predileção por entrevistas ¿ o que já o colocou em situações polêmicas. No ano passado, comprou briga por meio da imprensa com o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que afirmou ter perdido a confiança no colega. Até hoje, o clima entre os dois é de constrangimento.

Em maio, também disparou críticas publicamente contra ministros de outras áreas, como Transportes e Minas e Energia, que, segundo ele, fechavam acordos nos gabinetes e depois iam com suas ¿machadinhas¿ ao Congresso para ¿esquartejar¿ a legislação ambiental. Depois, em audiência na Câmara, disse que os ruralistas queriam tirar um pedaço de sua ¿picanha¿. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve de agir e exigiu que ele resolvesse os impasses com os colegas no gabinete e não na imprensa. (DM)