Título: Alegria e incertezas no 1º dia de liberdade
Autor:
Fonte: O Globo, 15/07/2010, O Mundo, p. 31

Outros ex-presos políticos cubanos chegam à Espanha, mas dissidentes devem ter dificuldade de conseguir emprego

MADRI. Enquanto mais dois dissidentes cubanos desembarcavam ontem em Madri, os sete presos políticos que chegaram na véspera aproveitavam seu primeiro dia de liberdade em sete anos. Outros dois devem se juntar ao grupo que, alojado num modesto hotel na periferia da capital espanhola, ainda parecia atordoado com a nova situação.

Parte do primeiro grupo dos 52 ativistas a serem libertados por meio de um acordo entre o governo cubano, a Igreja Católica e a Espanha, Léster González parecia desorientado após sua primeira noite fora da prisão, "como se estivesse sonhando".

- Vamos ter que aprender a viver em liberdade - disse o jornalista Julio Cesar Galvez.

Quatro antigos exilados desejam retornar a Cuba

Omar Rodríguez Saludes e Normando Hernández González, que chegaram ontem, foram levados ao mesmo hotel, com dez parentes. Outros dois, Mijail Bárzaga e Luis Milán Fernández, devem desembarcar hoje. Hernández se emocionou ao reencontrar a mãe, Blanca Gonzalez, a quem não via havia oito anos.

- Eu não via o meu filho desde que deixei Cuba - disse Blanca, que atualmente vive em Miami. - Estou muito tensa, muito nervosa.

Os sete ex-prisioneiros alternavam sentimentos entre a alegria da liberdade e a incerteza da vida num novo país ao passear pela cidade. O cirurgião plástico e jornalista José Luis García estava impressionado com a quantidade de prédios e carros nas ruas.

- A única coisa que peço à Espanha é uma oportunidade para trabalhar - disse García, que desembarcou apenas com a roupa do corpo.

Pablo Pacheco realizou um sonho ao ver o estádio do Real Madrid, mas disse que ainda não era a hora de comemorar enquanto outros dissidentes estiverem presos. Pacheco não pretende ir para os Estados Unidos, embora a mãe e dois irmãos já vivam lá. Ele acredita que foi o pedido de visto de refugiado político feito a Washington que motivou sua prisão:

- O governo americano negou (o pedido) e então o governo cubano me deu uma sentença de 20 anos de prisão.

O governo espanhol está ajudando os dissidentes, a maior parte deles formada por jornalistas, mas encontrar trabalho poderá ser difícil. A Espanha enfrenta uma grave crise econômica e a taxa de desemprego ronda os 20%.

Pedro Pablo Álvarez Ramos, Omar Pernet Hernández, José Gabriel Ramon Castillo e Alejandro Gonzalez Raga, que chegaram à Espanha em 2008, encontraram dificuldades em se ajustar e desejam deixar o país, contou Borja Bergareche, do Comitê de Proteção aos Jornalistas:

- Eles gostariam de retornar a Cuba como cidadãos livres, o que não vai acontecer, ou viajar aos Estados Unidos.