Título: Árvores refinadas
Autor: Vidor, George
Fonte: O Globo, 17/05/2010, Economia, p. 18

A ideia surgiu durante visita a uma grande refinaria (com capacidade para processar 600 mil barris de petróleo por dia) que a Índia está construindo perto da fronteira com o Paquistão, em área inóspita. Se lá, com água do mar dessanilizada e solo árido, seria possível plantar milhões de mudas de árvores, por que não repetir o desafio aqui no Comperj, na região de Itaboraí?

O diretor de Abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, voltou com esse propósito do exterior, há poucos anos, após passar por algumas refinarias que estavam em construção.

Fazia muito tempo que a Petrobras não investia em uma nova refinaria, a exemplo das demais companhias petrolíferas. Por isso, para se acompanhar qualquer refinaria em construção seria preciso ir à Índia, à China ou ao Oriente Médio.

Nos tempos que os navios ainda eram feitos de madeira, muitas árvores foram cortadas na região que agora vai abrigar o Comperj.

A indústria de petróleo, que foi a responsável pelo ressurgimento da construção naval no Brasil, terá então a a oportunidade de saldar a dívida que esse setor pioneiro deixou no entorno da Baía de Guanabara. A construção naval foi uma das primeiras atividades manufatureiras do Brasil colônia, pois surgiu quase que simultaneamente à exploração do pau-brasil e aos engenhos de açúcar.

A Petrobras encomendou à Embrapa um estudo sobre as espécies de árvores que existiam ou ainda são predominantes na região.

Uma pesquisa bibliográfica serviu de base, mas um trabalho de campo a complementou, aproveitando-se inclusive a chamada cultura popular, extraída de antigos moradores.

O resultado é que vários hortos (de Niterói a Silva Jardim) se encarregarão de desenvolver as mudas de quatro milhões de árvores. As primeiras 2.500 já foram plantadas. E as demais o serão durante a obra da refinaria e do complexo petroquímico.

Cerca de 150 pessoas, terceirizadas, cuidarão do plantio e da manutenção do anel florestal.

Aproximadamente 70% da terraplenagem do Comperj estão concluídos. Em alguns trechos o solo foi estaqueado e compactado adequadamente para receber tanques de óleo e água que pesam mais de 100 mil toneladas. Os canteiros de obras para montagem dos equipamentos surgirão nos próximos meses, relativos aos contratos já assinados, que somam quase R$ 5 bilhões. Se não houver imprevistos pelo caminho, a primeira das duas refinarias do Comperj começará a processar 165 mil barris de petróleo pesado por dia em dezembro de 2013.

Além de produtos básicos petroquímicos, do Comperj sairá diesel para ser usado dentro das grandes cidades (cujo material particulado, após a combustão em motores mais modernos, resultará em menos de dez partes por milhão, em vez dos atuais 500 ou 1.800). Sairá de lá também o bunker (combustível de navios), com menos de 1% de enxofre, padrão que a Europa passará a exigir dentro de três anos. E, no lugar de óleo combustível, a refinaria produzirá coque.

O coque de petróleo pode substituir o carvão em termelétricas e em siderúrgicas.

Mas, se calcinado, com retirada de componentes líquidos e voláteis, é insumo para a indústria de alumínio. Por isso, a Petrobras investirá em uma nova fábrica de calcinação de coque: o projeto está em andamento e o local escolhido fica em Seropédica, junto à Baixada Fluminense, um município que tem apenas 5% de suas ruas asfaltadas.

Será a segunda fábrica desse tipo no Brasil (hoje só existe a Petrocoque, na Bahia).

O Comperj, na segunda fase, terá mais uma unidade que processará 165 mil barris diários de petróleo pesado, com previsão para funcionar em 2017.

Em 2013, quando o Comperj estiver produzindo, certamente o Arco Rodoviário terá desafogado o tráfego naquela região. Mesmo assim, a intenção da Petrobras não é usar apenas o frete rodoviário para transportar resinas termoplásticas que se destinarão provavelmente a indústrias transformadoras de São Paulo, pois nesse caso o movimento diário seria de 800 caminhões.

A ferrovia que passa por ali hoje ociosa poderá dividir essa tarefa.

Há poucas semanas descrevi a experiência dos Centros de Vocação Tecnológica (CVTs) no Rio de Janeiro, iniciativa estadual no ensino profissionalizante. A nota motivou telefonema do secretário de Educação do Espírito Santo, Haroldo Corrêa Rocha, para falar sobre o mesmo tema. Desde 2007, o governo capixaba vem comprando vagas na rede particular especializada em ensino técnico. Na última seleção, para 1.200 vagas oferecidas apareceram 17 mil candidatos.

Essa compra foi uma maneira de as autoridades enveredarem pelo ensino técnico voltado à industria. O ensino técnico de nível médio na rede pública estadual está mais restrito aos segmentos de comércio, serviços e agricultura, que não exigem instalações especiais e laboratórios. A rede federal oferece também outras oito mil vagas no Estado.

Em 2004, o Espírito Santo tinha pouco mais de oito mil alunos no ensino técnico de nível médio. Agora são 32 mil.

O rotor da primeira das oito turbinas da futura hidrelétrica de Estreito, no Rio Tocantins (na divisa do estado de Tocantins com o Maranhão) já está no lugar. A obra avança com rapidez e em outubro as comportas serão fechadas para que a água se acumule junto à barragem.

No fim do ano essa primeira turbina entrará em testes e no início de 2011 a usina deve gerar energia comercialmente.

Estreito terá potência de mais de mil megawatts.

Postei algumas fotos recentes da obra (cedidas pelo grupo Suez, líder do consórcio) no meu blog.

Se quiserem conferir: www.oglobo.com.br/blogs

Saio de férias. Volto, assim espero, para acompanhar a reunião do Copom, quando as taxas básicas de juros estarão novamente na berlinda.