Título: Artilharia pós-pesquisa
Autor: Mascarenhas, Gabriel; Vasconcellos, Fábio
Fonte: O Globo, 20/09/2008, O País, p. 3

Crivella ataca aliança de candidato do PMDB; Paes reage: "Ele não entende parceria"

Gabriel Mascarenhas, Fábio Vasconcellos e Sérgio Duran

Até então marcada pelo tom ameno das críticas entre os candidatos a prefeito, a campanha eleitoral esquentou a duas semanas do pleito. A divulgação da última pesquisa Datafolha deu início a um bate-boca entre os três primeiros colocados. Tecnicamente empatado na segunda colocação com Jandira Feghali (PCdoB), que tem 13% das intenções de voto, o candidato do PRB, Marcelo Crivella (com 18%), atacou a candidatura de Eduardo Paes (PMDB), que está na dianteira, com 26%. Crivella afirmou ser um perigo para a democracia a possibilidade de peemedebistas concentrarem o poder político na capital e no estado - governado por Sérgio Cabral (PMDB). Acostumado a não comentar críticas de adversários, Paes desta vez reagiu: disse que o senador desconhece relações de parceria entre governos por estar submetido, segundo ele, ao poder centralizador da Igreja Universal.

- Não interessa ao carioca entregar a um só partido, o PMDB, a principal cidade do estado. O partido já domina a Assembléia Legislativa, o Tribunal de Contas; e, no próprio Tribunal de Justiça, dos 179 desembargadores, 139 foram nomeados nestes dez anos de governo do PMDB. Com isso, há uma influência política de um partido que tem práticas patrimonialistas. É um perigo concentrarmos o poder político nas mãos de um só partido - atacou Crivella, depois de cair três pontos na pesquisa.

Gabeira não entra no bate-boca

Em Bangu, Crivella caminhou ao lado do boxeador Arcelino Popó de Freitas. Perguntado se as críticas poderiam prejudicar a apregoada ligação que relata ter com Cabral, Crivella disse que "elas são para o bem dele". Ao deixar a panfletagem, o candidato e mais oito colaboradores subiram numa picape para uma carreata na Zona Oeste. A conduta contraria as normas do Código Brasileiro de Trânsito e consta como infração gravíssima, punível com multa e apreensão do veículo, segundo o artigo 230 do Código.

- Todo político que assume muito poder passa a ser tirano, ditador. A História mostra isso. É preciso haver um equilíbrio entre os partidos, e não temos isso nesta eleição porque a campanha do PMDB é milionária. É preciso que o resultado das urnas consagre o princípio da democracia, que é a distribuição e a alternância de poder. Quem concentra muito poder nas mãos se torna tirano e fica pior para quem está embaixo, porque o tirano oprime - disse o senador.

Em resposta, Paes afirmou que as declarações de Crivella demonstram desrespeito aos tribunais e à independência da Alerj. O peemedebista disse que sua candidatura é a única a representar a possibilidade de união entre os governos. Para Paes, o candidato do PRB não percebe a importância da parceria entre as instituições.

- Ele não percebeu o quanto fez mal à cidade o conflito entre prefeitura e governo do estado. Ele só reconhece a força de uma Igreja Universal centralizadora, que é a quem ele vai responder se chegar à prefeitura: ao chefe da Igreja Universal. Ele só reconhece uma relação de subordinação. Ele não consegue entender uma relação de parceria - rebateu Paes.

Procurado para comentar as declarações do candidato do PRB, a assessoria de Cabral afirmou que ele não responderia a críticas da campanha. Mas, num evento de manhã, em Nilópolis, ele manifestou seu apoio a Paes:

- Acredito que o povo da cidade do Rio está vendo na candidatura do Eduardo Paes a segurança de uma futura administração séria. É importante que ele fique atento e siga firme com a campanha porque a batalha ainda continua.

Em outra frente, Jandira Feghali (PCdoB) voltou a criticar Paes. Em seu programa eleitoral na TV, ela reproduziu imagens do peemedebista criticando o governo Lula, no Congresso, durante o escândalo do mensalão. Jandira também apontou supostas falhas na política de saúde do estado, depois de visitar o Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha.

- Tem candidato que muda mais de partido do que de camisa. Não queremos a cidade na mão do mesmo grupo - disse Jandira, se referindo a Paes e a Solange Amaral (DEM).

Integrantes da coordenação de campanha de Jandira informaram que a estratégia é mostrar, na televisão, as diferenças entre os candidatos, especialmente entre Paes e Jandira. Já coordenadores do PMDB consideraram um erro a estratégia do PCdoB. Para eles, o programa eleitoral de Jandira pode afastar ainda mais os eleitores das urnas. Paes se defendeu. Disse que a candidata deve se preocupar mais em discutir os problemas da cidade:

Na contramão dos ataques, Fernando Gabeira (PV), que passou de 8% para 11% nas intenções de voto e está tecnicamente empatado com Jandira, disse que não mudará a linha da campanha. A maior mudança na campanha virá das ruas, disse:

- Desde o início, prometi que não atacaria adversários, que seria transparente com os gastos e que não sujaria as ruas. E estou cumprindo.

Solange Amaral (DEM), que caiu de 7% para 5%, disse estar otimista.

- Crivella não foi para o segundo turno em 2004, nem em 2006, e não vai em 2008. A eleição está esquentando. Vamos estar no segundo turno.

COLABORARAM Pedro Motta Gueiros e Waleska Borges