Título: Grampo: Lula pede pressa na votação
Autor: Damé , Luiza
Fonte: O Globo, 29/07/2008, O País, p. 12

BRASÍLIA. Diante da reação aos grampos e ao vazamento de gravações feitas pela Polícia Federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu pressa na votação do projeto que regulamenta a escuta telefônica no país. O projeto, enviado pelo governo à Câmara em abril, restringe a escuta telefônica no país, estabelecendo prazo de duração do grampo, tramitação em segredo de Justiça e punição para quem vaza as gravações. O grampo telefônico tem preocupado o governo e foi discutido ontem na reunião de coordenação.

O assunto ganhou corpo no Planalto na Operação Satiagraha, que prendeu o banqueiro Daniel Dantas, do grupo Opportunity, o megainvestidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta. Foram grampeadas conversas do chefe de gabinete do presidente, Gilberto Carvalho, com o ex-deputado e advogado do Opportunity Luiz Eduardo Greenhalgh.

Lula orientou os ministros José Múcio (Relações Institucionais) e Tarso Genro (Justiça) a negociarem com os presidentes da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e do Senado, Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN), prioridade para votação do projeto, assim que acabar o recesso.

Na reunião também foi aprovado o veto ao projeto que proíbe busca e apreensão em escritórios de advocacia, pronto para sanção presidencial. Embora esteja propenso a vetar o projeto, do deputado Michel Temer (PMDB-SP), Lula resolveu esperar parecer técnico. Ele tem até 11 de agosto para decidir.

Mais tarde, em audiência com Tarso, os presidentes da Associação de Juízes Federais do Brasil (Ajufe), Fernando Mattos, e da Associação Nacional do Ministério Público (Conamp), José Carlos Cosenzo, pediram veto integral do projeto, alegando que cria regalias para advogados e poderia transformar escritórios em esconderijos.

- O projeto, se sancionado, servirá de instrumento de pressão até sobre os advogados. Na medida em que se tem a inviolabilidade do escritório, esse escritório vai poder ser utilizado por criminosos - disse Mattos.

- Isso é bom para o mau advogado e não será bom para a sociedade brasileira neste momento em que estamos lutando para combater a impunidade no país - afirmou Cosenzo.

O delegado Marcos Leôncio, representante da Associação de Delegados de PF, disse que o projeto é ruim porque atrapalharia as grandes operações de combate à corrupção:

- Prejudica o trabalho da polícia, já que não poderíamos ter acesso a dados que estariam dentro de computadores e e-mails, porque estariam sendo compartilhados dentro da relação advogado-cliente.