Título: Pastoral atribui redução da desnutrição infantil à maior escolaridade das mães
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 04/07/2008, O País, p. 5

Pesquisador defende também mais investimentos em saneamento

Adauri Antunes Barbosa

SÃO PAULO. A redução da desnutrição revelada pela Pesquisa Nacional sobre Democracia e Saúde (PNDS) já vinha sendo constatada pela Pastoral da Criança, segundo a médica Zilda Arns, fundadora e coordenadora internacional do organismo. Para a especialista, a redução da desnutrição está diretamente ligada à maior escolaridade da mãe.

- Quando percebemos isso, passamos a alfabetizar as mães e as líderes comunitárias ligadas ao trabalho da Pastoral. A mãe com maior escolaridade se mobiliza mais e consegue criar melhor seus filhos - disse Zilda Arns.

Estatísticas da Pastoral provam importância de escolaridade

A Pastoral, que atende 1,9 milhão de crianças e 100 mil gestantes em 43 mil comunidades pobres de 456 municípios brasileiros, tem dados estatísticos sobre a importância da escolaridade das mães: a taxa de mortalidade infantil é de 93 por mil bebês vivos quando a mãe tem até um ano de escola; o número cai para 70 casos por mil quando a escolaridade é de um a três anos; e para 28 por mil quando a mãe tem mais de três anos de escola.

Um dos criadores do Fome Zero, o professor Walter Belik, da Unicamp, atribui as melhorias à massificação dos programas de transferência de renda do governo federal. Segundo ele, os programas do governo anterior, do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, chegavam a dois milhões de famílias, enquanto o Bolsa Família beneficia hoje 11,8 milhões de famílias com uma renda média de R$100.

- O Brasil precisava de soluções mais pesadas. E o governo conseguiu massificar os programas sociais, principalmente de transferência de renda - disse.

Para Belik, outros fatores também foram fundamentais para a redução da desnutrição infantil, como a estabilidade econômica, o crescimento da economia e a valorização do salário mínimo. Ele cita até programas implantados nos anos 70/80, como a aposentadoria para trabalhadores rurais. O professor alerta, porém, para a necessidade de se cuidar também da infra-estrutura, já que o PNAD de 2006 informa que 28% dos domicílios do país não têm água potável e que em 19% o esgoto fica a céu aberto.