Título: Dengue custa R$134 milhões às famílias
Autor: Borges, Waleska
Fonte: O Globo, 30/04/2008, Rio, p. 16

Economista calcula que gastos com remédios, dias parados e até funeral chegam a 149% da renda mensal

A epidemia de dengue já custa para o bolso das famílias fluminenses afetadas pela doença R$134 milhões. Os cálculos foram feitos pelo professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Ulysses Reis, somando as despesas com remédios, hospital particular, transporte, dias parados no trabalho das 110.707 pessoas infectadas e até funeral dos 95 mortos pela doença no Estado. Conforme mostrou ontem o colunista Ancelmo Gois, em média, cada família de quem contraiu dengue gasta no mês R$1.778,28. O valor gasto é maior do que a renda média do brasileiro, de R$1.189,90.

- Para cada pessoa contaminada se perde o equivalente a um mês e meio de todos os ganhos brutos mensais da família. A dengue custa para o bolso da família 149% da sua renda - diz Reis.

Cálculos para três tipos de vítima

Para fazer os cálculos, o professor dividiu as vítimas em crianças, adultos fora do mercado de trabalho e adultos produtivos (que trabalham). Em média, o total que uma família gasta por criança que morreu com dengue chega a R$2.637,98. Já as despesas gastas com um adulto produtivo morto pela doença são de R$5.822,24. Uma criança que contraiu a doença e se recuperou gastou R$587; e um adulto produtivo na mesma situação, R$1.787,59.

Segundo o especialista, os valores usados nos cálculos foram pesquisados em clínicas, farmácias e funerárias, além de terem sido comparados com as despesas de seis famílias de pessoas infectadas pelo Aedes aegypti.

- A simulação foi feita com valores bem modestos. Também considerei os gastos das vítimas que moram na Baixada e na Zona Norte. Se a renda mensal da família fosse de R$3 mil, o custo da doença seria equivalente a 75% dos ganhos mensais - avalia Reis.

As contas do especialista apontam que apenas com remédios uma criança morta pela doença gastou R$200, e o adulto produtivo, R$300. Considerando que possa existir subnotificação, o especialista fez o cálculo como se a epidemia tivesse atingido o dobro das vítimas. Nessa situação, os custos para o bolso das famílias fluminense com dengue somariam R$268 milhões.

Procurada para comentar o estudo feito por Reis, a Secretaria municipal de Saúde preferiu não se manifestar. Já a Secretaria estadual de Saúde informou apenas que disponibilizou remédios e atendimento gratuito - através do SUS - para as pessoas que buscassem as unidades públicas da rede.

Presidente do Sindicato dos Médicos, Jorge Darze, disse que as despesas para o carioca serão ainda maiores se somados os processos das vítimas da dengue que vão pedir indenização na Justiça. Darze lembra que existe uma ação civil pública de dano moral coletivo proposta pela Defensoria Pública da União. Segundo ele, para as vítimas que morreram será pedida uma indenização de R$300 mil, além de pensão vitalícia.

Cabeleireiros entram na campanha

Em reportagem publicada pelo GLOBO no início do mês, o economista Marcelo Neri, da Fundação Getúlio Vargas, dizia que, além da perda no PIB, a epidemia provoca um estrago maior, no que se refere aos indicadores de pobreza.

- A dengue afeta mais os pobres, que geralmente trabalham por conta própria -- diz Neri.

No Campo de Santana, cabeleireiros distribuíram cartilhas com instruções de combate à dengue e improvisaram um salão de beleza, para realizar cortes gratuitos. Trinta profissionais atenderam a mais de mil pessoas entre 8h e 15h30m.