Título: CPI começa a ter acesso, no TCU, a documentos sigilosos da Presidência
Autor: Gripp, Alan; Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 23/04/2008, O País, p. 4

Dilma marca depoimento em comissão do Senado para o próximo dia 30

Adriana Vasconcelos e Jailton de Carvalho

BRASÍLIA. No primeiro dia de consulta aos gastos secretos da Presidência em poder do Tribunal de Contas da União (TCU), parlamentares governistas e de oposição disseram ontem não ver motivos para que as despesas sejam mantidas em sigilo. Os papéis começaram a ser examinados por sete deputados da CPI do Cartão Corporativo. Nos pareceres sigilosos, o TCU aponta irregularidades no uso dos cartões em compras de material de escritório e aluguéis de veículos em viagens presidenciais.

- Não tem nada de segurança nacional - disse o governista Carlos Willian (PTC-MG).

- É ridículo o governo classificar esses dados como sigilosos - reforçou o oposicionista Índio da Costa (DEM-RJ).

Abin bancou aluguel de veículos para ministros

Os deputados analisaram 11 processos sigilosos de auditoria sobre o uso dos cartões. Entre os registros de locação de veículos em viagens presidenciais, há despesas de R$60 mil em um só deslocamento. Numa das viagens, o comboio incluiu um ônibus e um jipe Cherokee. Eles localizaram a compra de garrafas do vinho gaúcho Miolo, supostamente para solenidades com a presença do presidente Lula. A CPI também teve acesso a gastos secretos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), alvo de uma auditoria separada no TCU. As notas mostram que o orçamento do órgão cobriu o aluguel de veículos para o transporte de ministros. Os papéis em poder do TCU reúnem cerca de 2,6% dos gastos da Presidência com os cartões entre 2002 e 2006.

Para a consulta, os deputados assinaram termos de responsabilidade e tiveram de deixar os celulares fora da sala. Não foram permitidas gravações ou cópias dos papéis. Antes de investigar irregularidades registradas nesses documentos, a CPI terá de quebrar o sigilo dos processos.

A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, marcou para o próximo dia 30, véspera do feriado de 1º de maio, seu depoimento na Comissão de Infra-estrutura do Senado. Ela responderá sobre o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e a montagem do dossiê sobre gastos sigilosos do governo Fernando Henrique. Para o presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN), já era hora de a ministra atender à convocação:

- Acho que está havendo um excesso de proteção da ministra. A ministra é a mãe do PAC e agora está havendo um paternalismo muito grande em torno dela para que não fale. A ministra é uma pessoa que certamente merece essa dedicação toda, mas há horas em que essa dedicação termina não servindo à ministra, nem ao país nem ao governo - disse Garibaldi.

Jucá derruba nova convocação de Dilma

A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), não gostou e lamentou que Garibaldi não tenha condenado "o golpe" dado pela oposição para aprovar, semana passada, mais uma convocação para que Dilma fale sobre o dossiê:

- Infelizmente seus comentários não são sobre tudo o que acontece aqui.

Numa estratégia idêntica à da oposição, o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR), barrou ontem nova convocação de Dilma, desta vez na Comissão de Fiscalização e Controle. Diante da presença de apenas um representante da oposição, Flexa Ribeiro (PSDB-PA), Jucá garantiu a inversão de pauta e rejeitou requerimento de Arthur Virgílio (PSDB-AM) para convocar Dilma também por essa comissão para tratar do dossiê.

O diretor da Polícia Federal, Luiz Fernando Corrêa, afirmou que não há interferência política nas investigações sobre o dossiê. Corrêa disse que o delegado Sérgio Menezes, presidente do inquérito, conduz o caso com autonomia. Menezes deve marcar ainda esta semana os depoimentos dos seis servidores da Casa Civil encarregados de montar o banco de dados de onde teria saído o dossiê. Depois, interrogará os chefes desses servidores. Ao final, a PF convidará Dilma a depor, como antecipou O GLOBO ontem, na condição de testemunha.

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