Título: Analistas: economia resistirá à alta dos juros
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 13/04/2008, Economia, p. 36

Mesmo que Banco Central eleve a Selic na quarta-feira, avaliação é que PIB vai crescer acima de 4,5% este ano BRASÍLIA. O Banco Central (BC) não precisa. Mas vai aumentar os juros básicos da economia, após três anos sem altas da Taxa Selic. Essa é a opinião de analistas do mercado, setor produtivo e integrantes do governo sobre a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima quarta-feira, para evitar um repique da inflação. Mas, ainda assim, a avaliação é que o crescimento vigoroso da economia brasileira não será muito afetado, ficando acima de 4,5% este ano. E o consumidor não deve sentir os efeitos tão cedo.

A elevação deverá ser de 0,25 ponto percentual, segundo a média do mercado, mas vêm crescendo as apostas de alta de 0,5 ponto. De qualquer forma, deve ser gradual. O mercado espera que a Selic, hoje em 11,25% ao ano, encerre 2008 a 12,5%.

O BC vem dando sinais claros de que está preocupado com a trajetória dos preços e prefere agir de maneira preventiva. Na quinta-feira, o próprio presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou que os bancos centrais do mundo todo têm de agir de forma "prospectiva ou preventiva".

Para o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, ao elevar os juros agora o BC quer assegurar que o Produto Interno Bruto (PIB) cresça mais perto de seu potencial, em torno de 4%. Uma expansão muito acima desse patamar pressionaria a inflação.

- Antes que a inflação comece a se afastar do centro (da meta), o BC vai agir preventivamente - explica Rosa.

Efeito no bolso do consumidor será pequeno

Dessa forma, o movimento de alta será provavelmente a opção do BC, para ressaltar seu comprometimento com a meta de inflação de 4,5%. O consenso é que vai prevalecer a tese da prevenção sobre a da paciência - a qual defende que o Copom espere o desdobramento da crise internacional.

Um interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por exemplo, argumenta que, mesmo que os preços agrícolas internacionais não caiam a curto prazo, eles não tendem a subir de forma vertiginosa, o que eliminaria a pressão dos preços dos alimentos sobre a inflação.

- O aumento dos juros não vai afetar substancialmente o crescimento da economia. Mas certamente não ajuda a melhorar as expectativas futuras - diz o coordenador da Unidade de Política Econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Flávio Castelo Branco, para quem o PIB vai crescer 5%.

Ex-presidente do BC, Gustavo Loyola acredita que o IPCA ainda não saiu das rédeas (a projeção do mercado para 2008 é de 4,5%, e a alta acumulada em 12 meses, de 4,73%). Mas concorda que uma alta da Selic seria sinal de estabilidade a longo prazo, o que é bom para o empresariado:

- O que afeta o crescimento é inflação, volatilidade. As pessoas ficam tranqüilas quando os preços estão sob controle.

Para o consumidor, o impacto de uma alta gradual será pequeno. O vice-presidente da Anefac (associação que reúne os executivos de finanças), Miguel de Oliveira, calcula que, caso a Selic chegue a 12,50% em dezembro, a taxa média nos empréstimos pessoais passará de 5,29% para 5,39% ao mês. Em um empréstimo de mil reais por seis meses, as prestações pulariam de R$198,85 para R$199,48 - uma diferença de R$3,78.

Além disso, segundo a CNI, o uso da capacidade instalada da indústria recuou em fevereiro, de 83,1% para 82,9%.

- O que estava assustando mais era a capacidade instalada do setor produtivo. Mas já está melhorando. O BC não tem razão para aumentar os juros - diz o diretor do Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida.

COLABOROU Eliane Oliveira