Título: Família quer processar estado por erro médico
Autor: Tavares, Karine; Grandelle, Renato
Fonte: O Globo, 07/04/2008, Rio, p. 9

Pai de adolescente que morreu com suspeita de dengue diz que filho não poderia tomar antiinflamatório receitado

A família do adolescente Danilo Romano de Souza, de 14 anos, que morreu na manhã de sábado com suspeita de dengue hemorrágica, anunciou ontem que processará o estado por erro médico. O irmão de Danilo, Daniel Romano, acredita que um antiinflamatório, receitado por um ortopedista do Hospital Estadual Pedro II, tenha sido fatal para o rapaz.

¿ Não fomos bem orientados ¿ protestou Daniel, durante o enterro do irmão. ¿ Ele não podia ter tomado antiinflamatórios, porque estava com febre e dor de cabeça.

Danilo começou a tomar o medicamento terça-feira, quando foi pela primeira vez ao hospital, com dor no tornozelo direito. Como o adolescente tinha febre, seu pai, Maurício Ezequiel, pediu que também fosse feito um hemograma. O exame não indicou dengue.

¿ Ele tomou o remédio até sexta à noite, a cada oito horas ¿ lembra Ezequiel. ¿ E não podia ter tomado nenhum. O médico disse que a dor de cabeça e a febre poderiam ter sido causadas pela fissura no pé.

Adolescente teve de voltar ao hospital cinco dias depois

Como Danilo continuava passando mal, o pai o levou novamente ao Pedro II na madrugada de sábado:

¿ Ele estava muito fraco, com dificuldade para respirar. Cheguei com ele ao hospital por volta das 3h30m. Ele foi colocado no soro imediatamente, mas ficou num banco de cimento até 7h, quando teve parada cardíaca. Só então foi levado para a UTI, mas morreu logo depois.

A suposta negligência do estado provocou revolta no enterro de Danilo, no Cemitério de Irajá. O adolescente morava em Paciência, na Zona Oeste, bairro que registra, em média, quatro casos de dengue por dia.

¿ Enquanto um poder briga com o outro para saber de quem é o mosquito, nossas crianças estão morrendo ¿ revolta-se Ezequiel. ¿ Perdi o meu caçulinha, a minha vida, e vou processar o estado porque eles têm de sentir o que está acontecendo de alguma maneira.

Em nota, a Secretaria estadual de Saúde ressaltou que um novo hemograma foi feito em Danilo no dia da morte. O número de plaquetas baixou para menos da metade do que foi constatado terça-feira, mas, mesmo assim, o índice não seria ¿baixo o suficiente para provocar a morte de um adolescente de 14 anos¿. O caso será apurado por uma comissão da secretaria.

O secretário de Saúde de Niterói, Luiz Roberto Tenório, admitiu ontem que a morte do menino Nivaldo Yan Pinheiro, de 6 anos, foi causada por dengue hemorrágica. O morador de Bangu estava internado no CTI pediátrico do Hospital Santa Cruz, da rede particular.