Título: Para o DEM, tucanos só pensam neles
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 24/02/2008, O País, p. 10

De Norte a Sul do país, dificuldade de alianças nas eleições

BRASÍLIA. A avaliação interna feita pela cúpula do DEM é de que os tucanos estão preocupados exclusivamente com seus planos e divisões internas, sem pensar num projeto de poder mais amplo.

- Acho que uma política de parceria mais sólida entre os dois partidos precisa passar por concessões dos dois lados. O PSDB não pode esperar do DEM que seja apenas suporte ao seu projeto de poder - diz o líder do DEM, deputado ACM Neto (BA).

Em Salvador, o PSDB - que nunca se aliou ao DEM ou ex-PFL na Bahia - decidiu lançar a candidatura do ex-prefeito Antonio Imbassay, que já foi do grupo carlista. Mas, em outras cidades importantes, a ausência dos tucanos no palanque do DEM é considerada quase uma ofensa.

Em Belém, o DEM está lançando a candidatura da ex-vice-governadora Valéria Pires Franco. Mas os tucanos ameaçam com a candidatura do ex-governador Simão Jatene. Em Recife, o ex-governador Mendonça Filho lançará uma chapa puro-sangue do DEM, já que o PSDB apoiará um candidato do PMDB.

Preocupação em manter aliança no Congresso

Há casos como o de Florianópolis, em que o candidato do DEM, deputado estadual Cesar Souza Junior, está em segundo nas pesquisas, e o PSDB ameaça lançar candidato ou apoiar um terceiro nome. No Rio, o PSDB também deve lançar candidato próprio, enquanto o DEM já avançou na candidatura da deputada federal Solange Amaral.

Já em Fortaleza, o PSDB ainda não manifestou oficialmente apoio ao ex-deputado Moroni Torgan (DEM). Mas, nos bastidores, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não esconde a simpatia pela candidatura da senadora Patrícia Saboya (PDT-CE).

- Se o PSDB não me atrapalhar, já vai estar de bom tamanho - minimizou Moroni Torgan, que lidera as pesquisas em Fortaleza ao lado da prefeita, Luizianne Lins (PT).

Mesmo com o descasamento eleitoral, há um cuidado no DEM e no próprio PSDB para manter a aliança congressual de oposição.

- Temos que tomar cuidado para que as divergências eleitorais não comprometam nossas relações no Congresso. Por isso é preciso evitar excessos - advertiu o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), tenta minimizar as divergências com o DEM e diz acreditar que as disputas municipais não devem prejudicar a aliança nacional em 2010.

- O DEM é nosso principal aliado. Agora, a eleição municipal tem uma lógica própria. Vamos saber diferenciar as duas realidades. O que não se deve é levar para a disputa de 2010 as dificuldades das alianças deste ano - observou Guerra.