Título: Papai Noel chega mais cedo para Morales
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 07/12/2007, Economia, p. 34

Em visita à Bolívia, Lula anunciará novos investimentos para amenizar crise política.

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer chegar a La Paz, no próximo dia 17, com um pacote de medidas a serem acertadas com o presidente da Bolívia, Evo Morales, que vão além do anúncio de investimentos pela Petrobras na prospecção de poços de gás natural. A agenda bilateral é bastante ampla e inclui promessas feitas a Morales no início deste ano, quando o líder boliviano esteve no Brasil. São exemplos a construção de uma ponte internacional ligando as cidades de Guajará-Mirim (RO) e Guayaramerin, no Departamento de Beni; a construção de um sistema rodoviário dando à Bolívia acesso ao Pacífico, via Peru; e a instalação de uma usina de biodiesel no país vizinho.

Os acordos ainda estão em negociação. Mas serão anunciados mesmo assim, favorecendo Morales, que enfrenta uma grave crise política envolvendo a aprovação da nova Constituição. Ou seja, o Brasil vai respaldar a credibilidade da Bolívia em termos de segurança institucional. Para demonstrar a importância dada pelo governo brasileiro à Bolívia, Lula vai a La Paz acompanhado de diversos ministros de Estado e de empresários em busca de novos empreendimentos em território boliviano.

Desde ontem na capital boliviana, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Marco Aurélio Garcia, já prepara os documentos a serem assinados pelos dois presidentes. Além da negociação dos acordos que serão assinados, Garcia foi enviado por Lula com a tarefa de fazer uma minuciosa apuração do cenário político. Ele terá encontros com Morales, com ministros de Estado da Bolívia, com congressistas do governo e - "se houver interesse" - da oposição.

Com o assessor de Lula, estão em La Paz funcionários da Petrobras, do BNDES e de outros órgãos governamentais ligados ao tema. Para Garcia, a atual instabilidade política na Bolívia não deve desanimar os investidores, em especial a Petrobras.

- Depende de como as pessoas avaliam instabilidade. Tanto o governo como todas as forças políticas na Bolívia têm clara a importância de novos investimentos - afirmou o assessor especial da Presidência. - Está havendo um processo democrático de elaboração de uma Constituição, em que as pessoas que estavam à margem da política vão poder participar. Todas as forças políticas estão interessadas na Petrobras.

Na próxima semana, a missão brasileira encarregada de preparar o encontro entre Lula e Morales será engrossada pelo ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner. As negociações estão em curso, especialmente com a Petrobras, mas, segundo fontes do governo, é preciso agora dar um tom mais político e cortês à visita, tendo em vista que a programação anterior previa que o presidente brasileiro estaria em La Paz na próxima segunda-feira. Lula decidiu adiar a viagem para trabalhar diretamente na aprovação da CPMF.

A integração física e política da América do Sul é prioridade do governo Lula, lembrou uma fonte da área diplomática. Mas um país como a Bolívia só pode se inserir nesse processo se tiver chance de se desenvolver. Um dos maiores problemas enfrentados pelos bolivianos é a falta de investimentos, principalmente no aumento da produção de gás para atender aos contratos de fornecimento para Brasil e Argentina.