Título: Absolvição não põe fim à crise no Senado
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 13/09/2007, O País, p. 14

O DIA D NO SENADO: "Vamos tentar juntar os cacos e exigir que os relatores sejam indicados", diz Casagrande.

Mais três representações contra Renan Calheiros já tramitam na Casa e pedem a cassação de seu mandato.

BRASÍLIA. Com o resultado de ontem , o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), pode achar que seu calvário acabou, com o arquivamento da principal denúncia contra ele. Mas seu alívio não deve durar mais que alguns dias: na próxima terça-feira, a primeira das outras três representações em andamento contra ele - e que também pedem a cassação de seu mandato - começa a ser rediscutida no Conselho de Ética. Com as três representações, a crise continua instalada no Senado, comprometendo as votações. Sempre que ele se sentar na cadeira de presidente da Casa, poderá ter que dar satisfações aos que defendem seu afastamento e sua cassação.

Apenas uma das representações já tem relator escolhido. O senador João Pedro (PT-AM) promete entregar terça-feira seu parecer pelo arquivamento. Segundo a denúncia, Renan ajudou a anular uma dívida de R$100 milhões da Schincariol junto a Previdência. Sem dizer se pediu alguma investigação profunda, João Pedro limitou-se a anunciar que entregará seu parecer.

- A crise se mudou para o Senado, e não sabemos por quanto tempo ela vai continuar acampada por aqui. Se a crise vai morar no Senado e vamos continuar trabalhando, não sei. Vamos tentar juntar os cacos e exigir que os relatores das outras representações sejam indicados - disse o relator derrotado Renato Casagrande (PSB-ES).

O próprio Casagrande não acredita que o caso Schincariol prospere. Mas considera graves e consistentes as denúncias que tratam da sociedade secreta de Renan, com uso de laranjas, na compra de veículos de comunicação em Alagoas, junto com o usineiro João Lyra; e a representação que trata das denúncias feitas pelo advogado Bruno de Miranda Lins, sobre o suposto envolvimento de Renan num esquema de propina e desvio de dinheiro dos ministérios comandados pelo PMDB, junto com o lobista Luiz Garcia Coelho.

- A crise só começou para o Senado. O Renan conseguiu reduzir um pouco a carga sobre ele, com negociatas de votos, mas aumentou muito a carga sobre o Senado e sobre os senadores. Não vamos desistir de cassar o mandato do Renan. Vamos exigir que o presidente do Conselho indique os relatores, e que eles investiguem de verdade - disse o senador Demóstenes Torres (DEM-GO).

Demóstenes avisou também que os partidos de oposição podem iniciar um processo de obstrução, caso Renan não se afaste da presidência.

- Renan só ganhou por causa das abstenções. A Casa não vai prosseguir depois desse resultado. Daqui para frente, não votaremos mais nada - disse Demóstenes.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), torce para que o resultado de ontem não interfira nos trabalhos da Casa.

- Espero que a absolvição de Renan arrefeça o clima de tensão dentro do Senado. Não considero necessária a saída de Renan do cargo de presidente da Casa. Ele continua na presidência e tem mandato para isso. Precisamos agora retomar o clima de trabalho e assentar a poeira.

Os integrantes da tropa de choque de Renan não estão preocupados nem com a crise do Senado nem com a possibilidade de que alguma das três representações ganhe força ou ameace novamente o mandato do presidente do Senado.

- As outras representações já nasceram sem força. É tudo ilação, sem provas - disse o senador Almeida Lima (PMDB-SE).

- Não concordo que o resultado de hoje deixe as outras representações sem força. Ainda não sabemos como isso vai repercutir nas ruas. E uma hora a ficha vai cair para a maioria da Casa - discorda o presidente do PSDB, Tasso Jereissati (CE).

No mesmo tom de Almeida Lima, o senador Wellington Salgado (PMDB-MG) disse achar que Renan pode dormir tranqüilo desde ontem:

- As outras representações são absurdas e não devem continuar. Caiu essa, cairão as outras. Não tenho a menor preocupação com elas - disse Salgado.

Autor de um dos votos pela abstenção, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) propôs que todas as outras representações sejam analisadas em bloco, para apressar o fim da crise no Senado. O assunto deve ser discutido na próxima sessão do Conselho, terça-feira.