Título: Belluzzo rejeita convite para presidir TV Pública; Senna terá cargo de direção
Autor: Galhardo, Ricardo e Weber, Demétrio
Fonte: O Globo, 07/09/2007, O País, p. 9

Conselho da rede, que terá até 20 integrantes, não foi escolhido.

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O economista Luiz Gonzaga Belluzzo foi convidado para ser o presidente executivo da rede de TV Pública, mas recusou o convite. Em conversa de mais de uma hora com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro de Comunicação Social, Franklin Martins, anteontem, no Palácio do Planalto, Belluzzo explicou que compromissos assumidos anteriormente o impedem de presidir a rede pública. Belluzzo aceitou, porém, integrar o Conselho Curador, cujos membros ainda serão indicados pelo governo e por organizações civis.

O secretário do Audiovisual do Ministério da Cultura, Orlando Senna, deve integrar a direção da TV Pública, como antecipou ontem Ancelmo Gois em sua coluna no GLOBO. A emissora se chamará TV Brasil e estreará no próximo dia 2 de dezembro. Senna diz que a futura rede de TV deverá servir à sociedade e não ao governo. Isso passa, segundo ele, pela criação do Conselho Curador. Caberá ao conselho definir as linhas gerais da programação, orientando o trabalho da direção-executiva, da qual Senna deverá fazer parte.

Belluzzo disse ao GLOBO por que não aceitou um posto executivo na TV:

- Expliquei ao presidente Lula quais são minhas limitações pessoais. Não tenho condições de ser presidente executivo. Precisaria passar pelo menos três dias por semana no Rio de Janeiro, e não tenho tempo - disse o economista.

Segundo Belluzzo, o presidente do conselho será eleito pelos demais membros.

- Fui convidado para integrar esse conselho e aceitei. O conselho terá autonomia para escolher o presidente. Se me elegerem, eu aceito - disse.

De acordo com Franklin Martins, o conselho fiscalizará se a TV Pública obedecerá a princípios como os da isenção e da pluralidade.

- O conselho terá entre 15 e 20 integrantes. Alguns poucos serão representantes do governo, um dos funcionários, e a grande maioria da sociedade - disse o ministro, que confirmou apenas o convite a Belluzzo para o conselho.

Senna: "O Estado paga, mas não manda"

Na conversa com Lula e Franklin Martins em Brasília, Belluzzo sugeriu nomes como o da escritora Nélida Piñon e do rapper MV Bill para comporem o conselho. Também defendeu junto a Lula um formato de financiamento da TV Pública semelhante ao das universidades públicas. A idéia é dar uma dotação orçamentária à TV para que ela não dependa da boa vontade dos governantes e mantenha autonomia em relação ao governo.

Para Senna, a TV não pode ser porta-voz do governo:

- É uma TV que tem que estar longe do governo e do poder econômico. Não é nem uma TV estatal, que é porta-voz do governo, nem uma TV privada comercial. É uma TV que pretende representar a voz da sociedade de maneira geral. Que pode elogiar ou criticar o governo, mas sempre com isenção. O Estado paga, mas não manda.

Segundo ele, o governo editará medida provisória no fim do mês, criando a TV Brasil. O passo seguinte será a nomeação dos membros do conselho e dos diretores da emissora. A sede da TV Brasil ficará no Rio de Janeiro, com subsedes em São Paulo, Brasília e São Luís (MA). A estréia, em 2 de dezembro, ocorrerá no mesmo dia das primeiras transmissões da TV digital em São Paulo.

Senna evita confirmar que vai assumir algum posto e diz que é cedo para falar em nomes. Lembra que a Secretaria do Audiovisual está envolvida na discussão da TV Pública desde o início do projeto, em 2005.

- Fui consultado. Há toda uma perspectiva de que eu venha a colaborar na TV Pública, mas é uma coisa muito incipiente. Sei que meu nome está falado, comentado.