Título: Para Lula, ilha deixa de ser o patinho feio
Autor: Scofield Jr., Gilberto
Fonte: O Globo, 04/06/2009, O Mundo, p. 31
Celso Amorim ajuda a costurar acordo entre EUA, Alba e OEA que resolveu impasse.
SÃO JOSÉ DA COSTA RICA e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva comemorou ontem a decisão tomada na assembleia-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) de revogar a resolução de 1962 que baniu Cuba do organismo. Segundo Lula, Cuba deixará de ser o patinho feio das Américas. O próximo passo, afirmou o presidente, é o fim do embargo imposto pelos Estados Unidos.
- Hoje recuperamos o direito de Cuba participar da OEA. Ninguém mais conseguia explicar ou entender (a gente) fazer uma reunião dos países das Américas e Cuba não estar presente, como se fosse o patinho feio - disse Lula.
Para ele, que ontem encerrou uma viagem pela América Central, foi uma vitória do povo latino-americano e de Cuba que, em sua opinião, esperou pacientemente por quase meio século.
- Não sei se Cuba vai querer voltar para a OEA. Pode não querer, mas de qualquer forma já não está marginalizada.
Quanto ao embargo americano, Lula reconheceu que o fim dele exigiria paciência dos dois lados.
- Sinto vontade do presidente (Barack) Obama e sinto vontade de Cuba. Essas coisas são sempre complicadas, porque todo mundo fica pensando no prejuízo político ou no ganho político que pode ter - afirmou Lula.
"Quando tudo parecia perdido", Amorim apela a Insulza
O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, trabalhou ativamente para que EUA e os países bolivarianos chegassem a um consenso. Anteontem à noite, Amorim conversou durante 40 minutos com a secretária de Estado americana, Hillary Clinton. Em seguida, reuniu-se com os representantes da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), grupo integrado por países como Venezuela, Bolívia, Equador e Nicarágua, contrários a qualquer tipo de condicionamento.
- Foi um processo longo, que durou mais de seis horas de reunião, com interrupção de três horas - disse Amorim.
Amorim relatou que, "quando tudo parecia perdido", procurou o secretário-geral da OEA, José Miguel Insulza, para que, juntos, conversassem com o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, e os representantes da Alba. Em seguida, conversou com Hillary.
- Conseguimos chegar a um meio-termo razoável - disse Amorim ao GLOBO, por telefone.
Assim, após um impasse que parecia impossível de ser resolvido, chegou-se ao entendimento de que entrariam no documento final os quatro pontos exigidos pelos EUA (democracia, segurança, direitos humanos e desenvolvimento) e mais os princípios sugeridos pelo Brasil (autodeterminação e não-intervenção).
Para Amorim, o ingresso de Cuba na OEA é uma questão de tempo, que depende de como ficarão as relações do país caribenho com os EUA.
*ENVIADO ESPECIAL (O repórter viajou em avião da FAB nos trechos internos na América Central, por causa da dificuldade de acompanhar a agenda presidencial em vôos comerciais)