Título: Anac abre processo para investigar dona de avião
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 10/02/2009, O País, p. 8

Em clima de comoção, cerca de 35 mil pessoas acompanham velórios e enterro das vítimas, em Coari (AM)

MANAUS e BRASÍLIA. A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) vai abrir processo administrativo para investigar as condições de segurança dos aviões da empresa Manaus Aerotáxi, dona do Bandeirante que caiu sábado no Rio Manacapuru, no Amazonas, matando 24 das 28 pessoas a bordo - sendo 20 de uma mesma família. Segundo a Anac, a investigação vai checar se a empresa cumpriu todos os procedimentos de segurança para fretar seus aviões.

A investigação será paralela à do Centro de Investigação de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), da Aeronáutica, que tenta descobrir as causas do acidente. A Manaus Aerotáxi nega irregularidades no voo. Além do avião que caiu sábado, a empresa tem registrados outros cinco.

Em clima de forte emoção, cerca de 35 mil pessoas participaram ontem, segundo a Polícia Militar, do velório coletivo e do enterro dos corpos de 22 das 24 vítimas, em Coari, cidade de onde o avião decolou rumo a Manaus. Coari tem 70 mil habitantes. A prefeitura decretou feriado e luto oficial de três dias, e a PM foi obrigada a controlar o acesso aos dois ginásios onde foram velados os corpos e ao cemitério, para evitar tumultos.

Os sepultamentos foram realizados de grupos de três, obedecendo ao desejo dos integrantes da família Melo, que teve 20 pessoas mortas. As vítimas estavam indo a uma festa em Manaus. Amigos usaram camisetas com fotos dos que morreram.

Técnicos do Cenipa começaram ontem a analisar provas recolhidas no local da queda. A principal é a caixa-preta do avião, que registra a comunicação dos pilotos entre si e com a torre de controle aéreo de Manaus. Segundo a Aeronáutica, o equipamento foi encontrado em boas condições e deve ser determinante para revelar as causas do acidente, o maior no país desde a explosão do avião da TAM em Congonhas, em 2007.

A Aeronáutica suspeita que problemas com combustível tenham causado a possível pane num dos motores, relatada pela sobrevivente Ana Lúcia Lauria. Falta determinar se o querosene de aviação acabou ou foi adulterado. A Manaus Aerotáxi admitiu que desapareceu o documento em que os pilotos registram o peso a bordo do avião, que estava superlotado. No Bandeirante cabem 19 pessoas, mas havia 28. A empresa negou sobrepeso e disse que havia crianças de até 2 anos, mas uma sobrevivente viu meninos de 8 anos com um passageiro.