Título: Ataques a 3 escolas da ONU pressionam Israel
Autor: Malkes, Renata
Fonte: O Globo, 07/01/2009, O Mundo, p. 22

Pelo menos 30 morrem em prédios que abrigavam refugiados da ofensiva militar. Ban Ki-moon considera episódio inaceitável.

Ataques israelenses a três escolas das Nações Unidas na Faixa de Gaza, que deixaram ontem mais de 30 mortos e 55 feridos, aumentaram a pressão internacional para que Israel negocie um cessar-fogo imediato. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, considerou o episódio "totalmente inaceitável". No maior ataque, pelo menos 30 civis morreram de manhã, quando disparos de um tanque atingiram a escola Al-Fakhoura, no campo de refugiados de Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza, onde 350 palestinos estavam abrigados.

Num incidente mais cedo, outra escola da entidade foi atingida na Cidade de Gaza, onde morreram mais três palestinos. Um terceiro estabelecimento da ONU, vazio, foi atingido em Jabaliya. De acordo com o Ministério da Saúde palestino, o número de mortos já chega a 640 e pelo menos 2,7 mil foram feridos desde o início da ofensiva, há 12 dias. Enquanto do lado israelense da fronteira crescem os rumores sobre as negociações para uma trégua, um foguete do Hamas caiu na cidade de Gadera, a 28 quilômetros de Tel Aviv, gerando temor de que a segunda maior cidade do país seja atingida. Um bebê de três meses ficou ferido.

Os centenas de refugiados nas escolas atingidas são alguns dos 14 mil palestinos refugiados em abrigos improvisados no norte de Gaza. O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse em nota que Israel havia sido advertido que "as operações estavam pondo as instalações da ONU em perigo". Pelo menos cem crianças já morreram na Faixa de Gaza desde o início do ataque israelense, segundo a ONG Save the Children.

- Muitas crianças palestinas estão morrendo. E quase nenhuma criança israelense foi morta. Por quê? Porque cuidamos das nossas crianças - respondera mais cedo o presidente israelense, Shimon Peres.

Israel concorda com corredor humanitário

Num comunicado, o Exército afirmou que militantes do Hamas estariam lançando bombas e morteiros de dentro dos colégios e, por isso, abriu fogo. Dois deles estariam entre as vítimas, que segundo fontes médicas podem chegar a 42. O Gabinete de segurança israelense se reuniu em caráter de emergência à noite para discutir os efeitos dos bombardeios e estuda apresentar uma queixa formal à ONU condenando o uso dos prédios por homens do Hamas.

Mas, na guerra de versões, o porta-voz da Agência de Refugiados da ONU nos territórios palestinos nega e garante que as escolas ostentavam as bandeiras azuis das Nações Unidas e sua localização exata teria sido passada aos israelenses. Analistas acreditam que o episódio possa mudar os rumos da ofensiva e fazer com que aumentem as pressões internacionais, apressando um cessar-fogo. Numa visita ao sul de Israel, o premier Ehud Olmert afirmou que o país não tem interesse em ocupar a Faixa de Gaza e garantiu estar em contato com diversos líderes mundiais em busca de uma proposta alternativa que permita a Israel recuar sem ferir seus interesses estratégicos.

- Há novas idéias sendo discutidas no campo diplomático. O resultado deve garantir um bloqueio efetivo, com supervisão internacional ao Corredor Filadélfia, onde estão os túneis por onde o Hamas recebe armas contrabandeadas do Egito - disse Olmert.

À noite, Olmert concordou com o estabelecimento de um corredor humanitário para o envio de ajuda aos palestinos.

Logo no início da manhã, pelo menos dez palestinos morreram vítimas de disparos feitos por navios de guerra israelenses estacionados no Mar Mediterrâneo. As tropas também ampliaram a ofensiva terrestre e depois dos combates na região norte de Gaza, centenas de soldados invadiram a cidade de Khan Yunis, no sul, em mais uma tentativa de impedir a movimentação de integrantes do Hamas na área onde se concentra a rede de túneis por onde são contrabandeadas armas e munição do Egito para a Faixa de Gaza.

O Exército apertou ainda o cerco à Cidade de Gaza e os combates alcançaram zonas residenciais num dos pontos de maior densidade demográfica do planeta. A batalha campal se espalhou ainda aos campos de refugiados de Deir el-Balah e Bureij, num sinal de que há presença militar israelense em toda a Faixa de Gaza - cuja extensão pode ser comparada à área do Pão-de-Açúcar à Pedra de Guaratiba, no Rio de Janeiro. Segundo o Exército, 130 integrantes do Hamas já teriam sido mortos na ofensiva terrestre.

O dia foi de pesar também do lado israelense da fronteira. Três soldados morreram no campo de refugiados de Jabaliyah atingidos por disparos da artilharia israelense na fronteira. Acredita-se que uma falha de comunicação pode ter causado o incidente. Um quarto militar foi morto no combate homem-a-homem, elevando para seis o número de baixas. Pelo menos 35 mísseis do Hamas atingiram ontem o sul de Israel.

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