Título: Delegada admite erro grave
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Fonte: Correio Braziliense, 19/03/2009, Brasil, p. 13

Antiga responsável pela investigação de abusos de crianças em Catanduva (SP), policial revela à CPI da Pedofilia que avisou o advogado de um dos suspeitos sobre planos de apreender computador

Durante depoimento ontem na audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Pedofilia, realizada em Catanduva (SP), a delegada Rosana da Silva Vani reconheceu que cometeu erros graves durante o inquérito que apurou denúncias de abusos de crianças na cidade. Rosana admitiu aos senadores que avisou com antecedência o advogado do médico Wagner Rodrigo Brida Gonçalves sobre a apreensão do computador que pretendia fazer na casa do cliente dele, em 20 de fevereiro. ¿Reconheço que foi uma falha grande¿, disse ela, quando questionada pelos senadores sobre críticas de testemunhas ao trabalho da Polícia Civil. ¿Foi uma precipitação, uma falta de análise racional.¿

Ao avisar o advogado, a delegada deu tempo para que o advogado ligasse para o cliente e avisasse sobre a ação. A consequência foi que, ao entrar na casa do médico, os agentes encontraram apenas o monitor e o modem ligados. A CPU havia desaparecido. O médico, suspeito de pertencer a uma rede de pedófilos que abusou de pelo menos 40 crianças no município, teve a prisão decretada na semana passada. Ele estava foragido até ontem à noite, mas como o Tribunal de Justiça lhe concedeu habeas corpus ele poderá depor na CPI hoje.

A declaração da delegada, que foi afastada do caso, irritou os senadores da CPI. ¿Você entregou o jogo ao adversário aos 47 minutos do segundo tempo¿, disse o senador Magno Malta (PR-ES), presidente da comissão. Segundo ele, o erro admitido pela delegada é considerado ¿primário¿ para uma profissional com 18 anos de profissão. Sete pessoas foram ouvidas pela CPI ontem. Seis suspeitos estão presos.

Capuzes Mais cedo, pais de crianças abusadas contaram que não tiveram apoio da Polícia Civil e do Conselho Tutelar da cidade quando decidiram denunciar o caso. As testemunhas usaram capuzes e jaquetas da polícia para não serem identificados. ¿Fui à Delegacia da Mulher e, por incrível que pareça, fui muito mal recebida. A delegada disse que era normal¿, afirmou uma das mães. Ela contou ainda que a filha de 8 anos foi violentada mais de uma vez e que os pedófilos ameaçavam as crianças para elas não contarem nada aos pais.

O diretor de uma escola municipal frequentada por algumas vítimas reforçou a versão dos pais. De acordo com ele, foi difícil convencer a Polícia Civil e o Ministério Público a apurar as denúncias. O dirigente da ONG Instituto Pró-Cidadania, Geraldo Corrêa, também afirmou que procurou o Ministério Público de Catanduva, mas não foi atendido pelo promotor. A CPI pediu providências à Corregedoria do MP. Corrêa pediu proteção policial, e os senadores prometeram atendê-lo.

-------------------------------------------------------------------------------- Irmãos ameaçados

A Justiça Estadual de São Paulo decidiu dar proteção para um garoto de 13 anos de idade ameaçado de morte em Murutinga do Sul, interior de São Paulo. Sete homens foram presos na cidade, todos por suspeita de pedofilia.

O garoto, que teria sofrido abusos, foi retirado da família e levado para um abrigo. A irmã dele, uma adolescente de 14 anos, também abusada pelo grupo, está desaparecida. Segundo a mãe dos dois, a filha fugiu porque também estava sendo ameaçada de morte.

De acordo com a delegada Milena Nabas de Melo, que investiga o caso, a mãe está sendo investigada por suposto aliciamento dos filhos. Segundo a policial, os acusados que estão presos disseram que a mãe prostituía os três filhos, duas meninas e um menino. A CPI da Pedofilia pediu ontem informações sobre a situação na cidade, de 4 mil habitantes.