Título: ACM Neto sofre derrota surpreendente
Autor: Lima, Maria
Fonte: O Globo, 06/10/2008, O País, p. 21

Petista Walter Pinheiro passa o candidato do DEM e vai disputar o 2º turno contra o prefeito João Henrique, do PMDB.

SALVADOR. O eleitor da capital baiana fez suspense, contrariou todos os institutos de pesquisa de intenção de votos e, só na boca-de-urna, definiu a inesperada disputa do segundo turno, que será entre o candidato do PT, Walter Pinheiro, e o prefeito João Henrique, do PMDB. Numa das mais eletrizantes disputas do país, nenhuma das pesquisas havia deixado candidato do DEM, ACM Neto, fora do páreo. Com uma margem muito pequena de vantagem, João Henrique teve 30,82% dos votos, e Pinheiro, 29,88% . Neto, que aparecia em primeiro lugar até o fim de setembro, ficou com 26,86%.

O resultado, além de levar grande tensão ao comando da campanha de João Henrique - que se preparou para polarizar com o oposicionista Neto - provoca grande confusão na base aliada do governo Lula na Bahia. O ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima - cacique do PMDB na Bahia, - e o governador petista Jaques Wagner começaram a medir forças ontem mesmo.

Governador diz que não aceita desequilíbrio de força

Geddel disse que já sabia que Lula se manteria afastado, caso o petista fosse para o segundo turno. Mas afirma que Wagner participou da campanha de Pinheiro no primeiro turno, ao declarar apoio no horário de TV. E alfinetou, dando o tom de como serão os próximos dias:

- Espero que a campanha não radicalize. Agora é evidente que estou engajado com meu candidato. E Wagner disse uma frase que me sensibilizou: falou que na política quem tem juízo tem que saber respeitar a fila. Só que neste momento quem está em primeiro na fila é João. E Walter tinha que saber esperar a sua vez e não esperou.

- Como neste momento os dois candidatos estão empatados no segundo turno, não estou reconhecendo nenhuma fila - rebateu Jaques Wagner.

O governador também não gostou da ameaça de Geddel de entrar com tudo na campanha do segundo turno:

- Se o ministro entrar (na campanha), está liberando qualquer outro ministro para entrar também. E se ele entrar como representante do Lula, terei que entrar e estarei engajado como governador do Estado na campanha do Walter. Não há hipótese de eu apoiar a candidatura do João. Não vou aceitar que haja desequilíbrio.

Pouco antes da divulgação da pesquisa de boca-de-urna, Pinheiro, desanimado, justificou uma possível derrota. Treze quilos mais magro e demonstrando cansaço, disse que fizera uma campanha boa, mas que entrara na disputa muito tarde. A verdade é que ele foi abandonado pelas principais estrelas de seu partido. Para complicar, Geddel e João Henrique o escolheram como alvo preferencial.

Mas, após o resultado, Pinheiro fez questão de dizer que não pediu nem a Lula nem a outros petistas que fossem no primeiro turno:

- Não procurei nenhum líder, nem dirigente partidário para choramigar. Foi uma vitória do povão e da militância.

No comitê do PMDB, o pânico se instalou logo que foi divulgada a boca-de-urna - com empate entre os três. Ninguém estava preparado para a disputa com Pinheiro. O alívio veio nos últimos minutos da apuração.

- Quem consegue conduzir uma campanha com as pesquisas deste jeito? Rapaz, que eleição dura! - dizia Lúcio Vieira Lima, presidente do PMDB da Bahia e irmão de Geddel.

Em sua estréia na disputa por um cargo eletivo, Neto sabia que seria muito difícil vencer no segundo turno, mas em nenhum momento considerou que perderia agora. Segundo os democratas baianos, entretanto, sua participação na campanha foi importante para marcar posição. Mesmo sendo derrotado, ele sabe que essa disputa seria inevitável para a estratégia de longo prazo de retomar a trajetória interrompida com a morte prematura do tio Luís Eduardo Magalhães, quando se desprendia do carlismo e consolidava uma carreira política nacional.

E Neto tentou mostrar que não se abateu com o resultado:

- Saí fortalecido, porque comecei com 11%, desacreditado, e termino com quase 30%, numa diferença apertada.

Neto disse que a decisão sobre quem apoiar no segundo turno sai nos próximos dias. A posição dos carlistas levará em conta a disputa de 2010: apoiar Pinheiro e fortalecer o grupo de Jaques Wagner; ou João Henrique, para enfraquecer o PT e o governo Lula no estado da Bahia.

- Estou aberto a falar com qualquer candidato, mas essa decisão não será tomada hoje, nem amanhã. Vamos ver qual candidato afunila mais nossas propostas - disse ACM Neto.

Logo após o resultado da apuração, a executiva regional do PSDB, comandada pelo presidente, Antonio Imbassahy, que teve 9%, decidiu apoiar Walter Pinheiro no segundo turno. Parte dos votos tucanos já havia migrado para o petista na campanha e foi responsável pelo seu crescimento na reta final.