Título: Europa garante depósito bancário até ¿ 50 mil
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 08/10/2008, Economia, p. 30

Alguns países terão limite maior. França decide dar garantia ilimitada e Espanha cria fundo de 30 bilhões.

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PARIS, BERLIM e MADRI. Os ministros das Finanças dos 27 países-membros da União Européia (UE) decidiram ontem em Luxemburgo garantir todos os depósitos até 50 mil, em caso de falência dos bancos. É mais do dobro da garantia estabelecida pelo bloco até agora ( 20 mil). Foi a primeira ação coordenada entre os europeus. Até então, cada um tomava decisões por conta própria, numa espécie de "salve-se quem puder".

- Vamos estar prontos para reagir na medida em que a crise evolua - garantiu a ministra de Economia da França, Christine Lagarde, que presidiu o encontro dos ministros da UE.

Ainda assim, a Europa não conseguiu falar numa só voz. Alguns países resolveram ir mais longe, esticando o limite da garantia dos depósitos para 100 mil. Foi o caso da Holanda, Espanha, Áustria e Bélgica. Além da garantia de depósitos até 100 mil, a Espanha ainda anunciou a criação de um fundo de 30 bilhões - que pode ser ampliado para 50 bilhões - para a compra de títulos (bons) dos bancos espanhóis, na condição de que eles não fechem a torneira do crédito no mercado.

- Se há um lugar em que os espanhóis podem acreditar na segurança de seus depósitos, é nos bancos espanhóis - disse o presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero.

Analistas temem fuga de capital devido a diferenças

A França foi ainda mais longe. Ontem, o primeiro-ministro François Fillon disse que o governo vai garantir 100% dos depósitos, contra um limite anterior de 70 mil. Essa disparidade entre os países que garantem mais e os que garantem menos dentro do bloco poderá provocar uma fuga de capital para os países com garantias mais elevadas, temem analistas. A idéia inicial era que todos concordassem com a garantia de 100 mil euros. Mas os países da Europa do Leste, bem como a Finlândia, foram contra, por temer explosão de déficit no orçamento.

A Europa está longe de falar numa só voz. A chanceler alemã, Angela Merkel, criticou ontem a Irlanda, que anunciou, no último dia 30, que iria garantir todos os depósitos de seus seis principais bancos por dois anos. A decisão de Dublin deixou os ingleses irados, já que os ingleses começaram a transferir seus recursos para os bancos irlandeses. Angela atacou o fato de a garantia do governo irlandês não se estender aos bancos estrangeiros instalados no país, criando "uma distorção na concorrência inaceitável".

Mas Berlim negou haver semelhanças entre o plano irlandês e a garantia para a poupança anunciada pela Alemanha no último domingo. O plano, no entanto, enfrenta a resistência do Congresso alemão, que terá de aprová-lo.

AL será prioridade para investimento da Telefónica

A Alemanha se opõe à idéia de um fundo europeu para combater a crise, por temer acabar tendo de pagar pelos outros. No Parlamento alemão, Angela criticou a cobiça do mercado financeiro e disse que a economia alemã é robusta. Mas admitiu:

- A situação é séria, mais do que jamais foi.

Na Conferência Mundial de Política em Evian, na França, o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Jean-Claude Trichet, disse que é preciso investigar as causas da atual crise para não repeti-la:

- Todo o sistema precisa ser investigado para que aprendamos uma lição. Mas não é preciso procurar um bode expiatório, seja a China ou os Estados Unidos.

A crise tornará a América Latina, particularmente o Brasil, prioridade para a Telefónica. A meta é investir 16 bilhões até 2010 (R$35,2 bilhões quando de seu anúncio), sendo R$15 bilhões no Brasil.

COLABOROU Gustavo Paul, com agências internacionais. O repórter viajou a Madri a convite da Telefónica