Título: Com PF, Espanha detém 121 por pedofilia
Autor: Priscila Guilayn e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 02/10/2008, O Mundo, p. 37

Maior operação do país contra a pornografia infantil na internet partiu de ação da polícia brasileira.

MADRI e BRASÍLIA. A polícia espanhola prendeu ontem 121 pessoas acusadas de pedofilia, numa investigação iniciada a partir da Operação Carrossel, da Polícia Federal brasileira. Na operação, lançada ano passado, a PF descobriu indícios de pedofilia no Brasil e em mais 70 países. Com as informações, as polícias de outros países iniciaram investigações formais em suas respectivas áreas de atuação. A polícia espanhola saiu na frente das demais e, além da prisão e indiciamento dos pedófilos espanhóis, confirmou a existência do crime em 75 países. Foi a maior operação contra a pornografia infantil na internet realizada até hoje na Espanha.

Dos 121 detidos, dois deles produziam seu próprio material pornográfico gravando seus sobrinhos, de menos de 10 anos, nus, em posturas sexuais.

- A distinção entre abuso e agressão radica na imagem em si. Uma criança nua, em postura sexual, em uma circunstância determinada é pornografia infantil - diferencia o chefe da Brigada de Investigação Tecnológica (BIT) espanhola, Manuel Vázquez, indicando que, neste caso, não quer dizer que, necessariamente, haja agressão.

Investigações começaram em julho de 2007

Boa parte do material já era conhecida na internet, segundo afirmou Vázquez. Havia vídeos de estupros e agressões sexuais, "imagens de extrema dureza", nas quais algumas vítimas eram crianças "muito pequenas, quase bebês".

- As imagens mais fortes são as de crianças, estrangeiras por seus traços físicos - contou Vázquez, sem entrar em maiores detalhes.

O perfil dos criminosos, todos de nacionalidade espanhola, é bem variado. Desde técnicos informáticos até estudantes de 17 anos, passando por funcionários públicos, profissionais liberais, pilotos, taxistas, porteiros, bancários, aposentados e, inclusive, empregados de escolas, embora não haja nenhum professor entre eles. Também foram detidos um policial, um aluno da Guardia Civil (uma das forças policias espanholas) e um agente do Centro Nacional de Inteligência. A maioria dos detidos tem idades entre 18 e 40 anos. Também foram identificadas pessoas de 41 a 60 anos. Além dos 121 detidos, foram imputadas 96 pessoas por distribuir material pedófilo na rede.

- Não há um padrão definido nem por idade, nem por profissão, nem por escolaridade - afirmou Vázquez.

As investigações, iniciadas em colaboração com a Polícia Federal brasileira em julho do ano passado, permitiram localizar mais de 18 mil conexões de intercâmbio de arquivos pornográficos infantis em 75 países.

- A PF criou uma base de dados de arquivos de pornografia infantil. O que fizeram foi, através de combinações matemáticas, identificar inequivocamente arquivos que estavam sendo compartilhados através da rede e seus usuários. Detectaram 1.600 conexões espanholas, das quais identificamos cerca de 250 - contou Luis García, inspetor da BIT.

Cerca de trinta computadores detectados eram de uso compartilhado - em repartições públicas e colégios, por exemplo - sem que houvesse controle dos usuários e, por isso, tiveram que ser eliminados desta investigação. No total, foram identificadas 219 conexões em 42 províncias espanholas.

Para a PF, a cooperação internacional é fundamental em investigações sobre pedofilia e outros crimes cometidos na rede mundial de computadores.

- A investigação dos crimes cibernéticos é assim: daqui dá para achar um alvo na China - afirma o chefe da Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos, Adalto Martins, responsável pelas investigações sobre pedofilia no Brasil.

Proximidade com agentes espanhóis facilitou a operação

Segundo o delegado, ano passado o FBI (polícia federal americana) repassou à Polícia Federal informações sobre pedófilos brasileiros. Com base nesse ponto de partida, a PF deflagrou a Operação Carrossel. Nas apurações, com a ajuda de um programa desenvolvido pelo Instituto Nacional de Criminalística, a equipe de Martins descobriu o envolvimento de brasileiros e estrangeiros de 70 países na produção e troca de fotos e vídeos com características de pedofilia. O material contém imagens de adultos cometendo abusos sexuais contra adolescentes, crianças e até bebês. Para Martins são cenas de extrema maldade que não deveriam nem ser descritas.

- São arquivos envolvendo crianças e adultos. São estupros - disse o delegado.

As partir dessas informações, a PF acionou os adidos da polícia na Embaixada da Espanha. Foram repassados dados similares também para adidos policiais das embaixadas de Israel, Grécia, Holanda, Suíça e Portugal, entre outros países. A proximidade entre policiais brasileiros e espanhóis teria facilitado a abertura das investigações na Espanha. Mas, segundo a PF, outros países como Letônia, Lituânia e Nova Zelândia também estão investigando pedófilos e poderão prender novos suspeitos em breve.