Título: Renan usou laranjas para comprar rádios
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Fonte: O Globo, 05/08/2007, O País, p. 14

Presidente do Senado teria pago R$1,3 milhão em dinheiro vivo por empresas de comunicação.

BRASÍLIA. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que já enfrenta um processo disciplinar no Conselho de Ética da Casa, pode ter utilizado laranjas para comprar uma rede de comunicação em seu estado, em 1998. Segundo reportagem da revista "Veja" desta semana, Renan seria o verdadeiro proprietário de duas emissoras de rádio em Alagoas, que, juntas, valem R$2,5 milhões, e ainda teria sido, até dois anos atrás, sócio de um jornal diário avaliado em R$3 milhões.

A revista informa que essas transações nunca foram notificadas à Justiça Eleitoral ou à Receita Federal, e a parte de Renan na transação - R$1,3 milhão, maior que seu patrimônio declarado à época da compra - foi paga em dinheiro vivo.

A reportagem informa que o grupo de comunicação foi comprado de Nazário Pimentel, em parceria com o usineiro João Lyra, sogro de Pedro Collor, irmão (já falecido) do ex-presidente Fernando Collor de Mello. No acordo, teria ficado acertado que Renan entraria com R$700 mil em espécie e financiaria a outra metade de sua parte com o próprio sócio. Com o acordo fechado, foi criada a JR Radiodifusão.

Primo e funcionário do Senado foram intermediários

O nome da empresa seria uma alusão às iniciais dos sócios ocultos - J de João e R de Renan - embora oficialmente os donos fossem Carlos Ricardo Santa Ritta, funcionário do gabinete de Renan em Brasília e ex-tesoureiro de sua campanha, e o corretor de imóveis José Carlos Paes, amigo de Lyra. Assim como ocorreu na acusação do uso de dinheiro de uma empreiteira para o pagamento da pensão para a filha que o senador tem com a jornalista Mônica Veloso, Renan teria utilizado intermediários para quitar a compra.

Everaldo França Ferro, funcionário do gabinete do senador, teria sido o responsável pelo pagamento de R$700 mil a Lyra - agora inimigo político de Renan. A revista informa que, certa vez, Ferro teria pedido paciência ao sócio Lyra, justificando que o dinheiro estava vindo do Rio Grande do Sul, sem especificar sua origem.

Outro portador de recursos de Renan teria sido o empresário Tito Uchôa, primo do senador. Entre março e junho de 1999, Uchôa teria levado R$650 mil ao ex-dono do grupo "O Jornal", Nazário Pimentel, em quatro parcelas, sendo a primeira de R$350 mil e três outras de R$100 mil cada uma. "Veja" afirma que, à época, Uchôa trabalhava na Delegacia Regional do Trabalho, com salário de R$1.390.

A revista informa que, de acordo com documentos registrados na Junta Comercial de Alagoas, desde março de 2005, com o fim da sociedade, José Carlos Paes saiu da JR e em seu lugar entrou como sócio Tito Uchôa. Em maio, foi a vez da saída de Carlos Santa Ritta da empresa para a entrada de Renan Calheiros Filho, filho do senador. Renan e seus assessores não foram localizados ontem para comentar as denúncias.

Assim que retornar ao Brasil, na terça-feira, de uma viagem ao Uruguai, o corregedor do Senado, Romeu Tuma (DEM-SP), vai abrir outro procedimento de investigação contra Renan para apurar as novas denúncias. E o PSOL vai entrar com um pedido para que o Conselho de Ética incorpore às investigações sobre origem de patrimônio de Renan as acusações de "Veja".

- O senador está se complicando. Mônica Veloso vai posar nua, mas quem está se desnudando a cada dia é ele - disse Chico Alencar (PSOL-RJ).