Título: Airbus da TAM fez 27 vôos com reverso travado
Autor: Gripp, Alan
Fonte: O Globo, 04/08/2007, O País, p. 8

Nos 30 dias anteriores ao desastre, avião esteve nos quatro cantos do país e chegou a percorrer nove trechos em um dia

BRASÍLIA. O Airbus da TAM que explodiu mês passado em São Paulo fez pelo menos 27 pousos em 14 aeroportos diferentes com apenas um reverso em funcionamento antes da fatídica tentativa em Congonhas, no dia 17. Cinco deles aconteceram no aeroporto paulistano, sendo dois no mesmo dia da tragédia e um deles debaixo de chuva.

O pouso sem o reverso não é proibido, mas auxiliaria o avião a frear, especialmente na pista curta e escorregadia de Congonhas, segundo especialistas. Resolução da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) recomenda que, em Congonhas e no Santos Dumont, os pousos sejam feitos somente com os reversos em pleno funcionamento.

Os registros das inspeções de rotina do Airbus (feitas antes de cada decolagem), enviados à CPI do Apagão Aéreo, traçam o percurso da aeronave nos 30 dias que antecederam o desastre. Nesse período, o avião da TAM esteve nos quatro cantos do país e chegou a percorrer nove trechos em um dia. Os boletins revelam percalços rotineiros, como o choque de aves no pára-brisa e pneus desgastados, até panes nos equipamentos que podem ter contribuído para o acidente.

No dia 29 de junho, após o pouso do avião em Ilhéus, na Bahia, um mecânico da TAM descobriu uma fenda de dez milímetros no reverso da turbina direita, justamente o que foi travado e estava inutilizado no pouso fatal em Congonhas. A TAM informou que a abertura aconteceu na parte interna do capô da turbina e seu tamanho é considerado normal no manual da aeronave. Mas deputados da CPI querem investigar se há relação com a inutilização do equipamento, duas semanas depois.

- Vamos questionar a Aeronáutica. Qualquer problema nos últimos vôos do Airbus pode ser uma pista importante - disse Vic Pires Franco (DEM-PA).

Na madrugada do dia 17, os registros mostram que o Airbus passou por uma inspeção semanal, no aeroporto de Campo Grande (MS). Foi encontrada falha no flap (sistema de frenagem aerodinâmica nas asas do avião) esquerdo, que, segundo o documento, foi consertada. O mecânico responsável pela manutenção recomenda que o equipamento seja observado nos próximos vôos, alerta considerado de praxe em casos como esse.

De Campo Grande, o Airbus foi para Goiânia, Brasília, Congonhas, Confins, e retornou a Congonhas. Lá, às 14h47m, a equipe de manutenção descobriu uma pane na turbina esquerda. O avião passou por reparos e foi liberado para seguir para Porto Alegre. A turbina esquerda não apresentou problemas quando o avião retornou mais uma vez a Congonhas e escapou da pista, explodindo ao chocar-se com o prédio da TAM Express.

Em Porto Alegre, onde o avião já pousou sob comando dos pilotos Kleyber Lima e Henrique Stephanini Di Sacco, foi feita a última inspeção. Kleyber não notou problemas. Um técnico deu aval para a decolagem: "Vistoria de rotina realizada às 16h46. Liberado para vôo".