Título: Aeronáutica investiga computadores de avião
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 30/07/2007, O País, p. 8

CPI questiona prazos de conserto e falta de providências da Airbus após outros problemas com manetes.

BRASÍLIA. Além do erro na posição da manete (alavanca que controla potência das turbinas) do Airbus da TAM no momento do pouso, a Aeronáutica apura se houve problemas no sistema de computadores da aeronave que explodiu em Congonhas no último dia 17. Segundo integrantes da CPI do Apagão Aéreo na Câmara, essa hipótese está sendo investigada a fundo pela comissão do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa), que trata desse acidente da TAM. A FAB quer saber se o sistema informatizado da aeronave não aceitou ou não compreendeu os comandos realizados pelos pilotos do Airbus A-320.

- A hipótese de os computadores do Airbus não terem obedecido ao comando emergencial do piloto, no momento em que percebeu que a aeronave não freava, é objeto de investigação aprofundada pela comissão de investigação do acidente. Estão investigando a relação homem-computador, computador-aeronave - disse o deputado Efraim Filho (DEM-PB).

O deputado, que esteve nos EUA acompanhando parte da degravação do conteúdo das caixas-pretas da aeronave da TAM, lembrou que em 1988, no lançamento do Airbus na França, o piloto tentou dar um vôo rasante e o computador entendeu que ele iria pousar. O relator da CPI, deputado Marco Maia (PT-RS), confirma que uma das hipóteses consideradas é a de pane em cadeia nos computadores da aeronave.

Dúvidas sobre a eficácia do sistema informatizado do Airbus já foram levantadas pela própria CPI durante depoimento do vice-presidente técnico da TAM, Ruy Amparo. Ele alegou que falhas no sistema informatizado eram "uma lenda" e que, abaixo de uma altitude de cem pés, os pilotos teriam controle total sobre a aeronave.

Na próxima semana, a CPI fará uma audiência com um dos representantes da Airbus no Brasil, Mário José de Bittencourt Sampaio. Marco Maia pretende cobrar dele explicações sobre o funcionamento da aeronave. Segundo a orientação da Airbus em caso de pouso de uma aeronave que esteja com um dos reversos travados, a manete deve estar na posição idle (marcha lenta). Caso a posição não esteja correta, a turbina pode ainda manter potência e impedir a frenagem do avião.

CPI questiona medidas da Airbus após outros acidentes

O relator lembra que houve outros acidentes envolvendo problemas com a manete quando reversor está travado.

- Por que a empresa não tomou nenhum procedimento para amenizar essa situação? Acho que deixar nas mãos dos pilotos, jogar com a sorte de que nunca aconteceria falha ou esquecimento dos pilotos no procedimento padrão é uma atitude temerária e irresponsável - argumentou Maia.

O vice-presidente da CPI, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também quer saber que providências foram tomadas pela Airbus, depois dos outros dois acidentes em que a manete estava em posição errada:

- Se a manete em outra posição provoca aquele efeito, por que a Airbus ainda não desenvolveu um alarme?

Cunha também pretende cobrar do representante da Airbus explicações sobre os prazos de consertos dados pelo manual. Segundo ele, é preciso explicar por que a empresa dá dez dias para o conserto do reverso.

- Quero saber qual a diferença entre um e dez dias. E por que a exigência de uma manutenção mais detalhada ( check C) é exigida a cada 18 meses, sem levar em conta o número de vôos da aeronave? Será que a utilização maior ou menor de uma aeronave não influencia?

Além do representante da Airbus, a CPI da Câmara vai ouvir também, na próxima quinta-feira, o presidente da TAM, Marco Bologna. Na quarta-feira, a CPI vai colher o depoimento do comandante da Aeronáutica, Juniti Saito. Na terça-feira, serão ouvidos o presidente da Pantanal, Marcos Sampaio Ferreira (avião que derrapou na pista de Congonhas, no dia anterior ao do acidente da TAM), o superintendente da Infraero em Congonhas, Armando Schneider Filho, e o presidente da Infraero, José Carlos Pereira.