Título: Defesa de senador apresenta mesmo cheque para transações diferentes
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 18/06/2007, O País, p. 4

SUCESSÃO DE ESCÂNDALOS: Papéis de Renan estão sendo analisados pela PF.

Análise de documentos revela dados conflitantes sobre venda de gado.

MACEIÓ. Os documentos apresentados pelo senador Renan Calheiros (PMDB-AL) ao Conselho de Ética do Senado, para tentar provar que partiram de suas contas os recursos destinados à pensão da jornalista Mônica Veloso, com quem tem uma filha, contêm incongruências. Em dois casos, os recibos de venda de gado anexados apresentam o mesmo cheque para justificar duas compras distintas.

Em outros casos, há erros de digitação, além de CNPJ com números trocados, ou pertencente a outra empresa. Um dos supostos compradores de gado do senador está com o CPF pendente de regularização na Receita Federal e, de acordo com o site do órgão, ele não entregou declaração de Imposto de Renda ano passado, embora tenha gastado R$55.607 na compra de bois de Renan, segundo os documentos apresentados pelo senador.

A Polícia Federal está fazendo uma perícia no material, embora já tenha adiantado que, a pedido dos membros do Conselho, vai se limitar a dizer se a papelada é falsa ou autêntica. A PF não investigará se as vendas aconteceram de fato e se os supostos compradores tinham condição financeira para tanto.

Em 14 de fevereiro de 2006, por exemplo, o senador atesta que vendeu 336,06 arrobas de bois para GF da Silva Costa. O pagamento se deu por meio de dois cheques, um dos quais de número 161, da agência 3411 do Bradesco. Menos de um mês depois, em 7 de março, o senador voltou a vender para GF da Silva Costa. Desta vez, foram 333,06 arrobas, no valor de R$18.992,40. O pagamento, mais uma vez, foi feito com dois cheques, e um deles novamente foi de número 161, do Bradesco.

Depósitos eram feitos na agência do BB no Senado

Em 21 de abril de 2004, um caso semelhante voltou a ocorrer. O cliente, na ocasião, foi Marcelo Nunes de Amorim. Uma das vendas foi no valor de R$95.232 e a outra, de R$30.800. Dois cheques de mesmo número - 409.571, da agência 1767-3 do banco HSBC - teriam sido usados nas duas transações. De acordo com os documentos, Amorim era um comprador assíduo. Cinco dias depois, comprou mais R$44 mil em bois, com o cheque seqüencial 409.572, também do HSBC.

Todos os depósitos de Renan relacionados à venda de gado eram feitos em sua conta corrente na agência do Banco do Brasil no Senado.

Há ainda outros erros nos recibos. Bruno Leonardo Veigas Lopes, que no ano passado teria comprado R$55.607 de gado do senador, não entregou declaração de Imposto de Renda em 2006 e, para a Receita Federal, seu CPF consta como "pendente de regularização".

O GLOBO procurou a assessoria de imprensa do senador Renan Calheiros e deixou recados em seu celular, mas ele não retornou. Na residência oficial, informaram que o senador não estava.